Entrevista — por Catarina Rosendo
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Carla Filipe é autora de uma obra sobrecarregada de signos e apelativa ao olhar, que funde palavras e grafismos e se apresenta em instalações feitas com artefactos das mais diversas proveniências, impressões serigráficas e offset, panos estampados e cosidos, pendões e bandeiras, cartazes e folhetos, desenhos, recortes e colagens, livros de artista, cadernos de apontamentos visuais e escritos, vestidos emoldurados e vegetais comestíveis dentro de pneus e bidões compondo uma horta. A memória, a identidade e a representação são os grandes eixos que norteiam a sua análise crítica das transformações políticas, económicas, sociais e culturais do Portugal contemporâneo, mediante ferramentas oriundas da antropologia e da sociologia, como o trabalho de campo, a observação e recolha de relatos e documentos.
Entrevista — por Catarina Rosendo
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A exposição de Fernanda Fragateiro patente no Centro Cultural de Belém foi originalmente concebida para a Fundación Cerezales Antonino y Cinia, em Léon. Na sua adaptação aos espaços expositivos em Belém, a instalação Em bruto: relações comoventes conta com novas obras, a supressão de outras e a reorganização espacial de todo o conjunto, e é acompanhada, como já acontecia em Espanha, de Materials Lab, um trabalho em curso que, desde 2015, tem vindo a ser acrescentado de novos elementos. Os constantes cruzamentos entre as artes visuais e a arquitectura que a obra de Fragateiro cria têm por base uma investigação continuada do papel dos modernismos novecentistas na conversão da dimensão utópica das vanguardas em melhorias de facto das condições de vida das populações, sobretudo nos contextos das pós-guerras mundiais, bem como uma reabilitação das propostas de mulheres artistas, designers e arquitectas cujo trabalho foi apagado da história ou insuficientemente valorizado.
Crítica — por Sofia Nunes
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Poems for Tourists, a mais recente exposição de Pedro Barateiro está em apresentação na Galeria Filomena Soares e resulta, em certa medida, numa proposta inesperadamente clássica. Clássica porque os trabalhos tendem a conservar maior autonomia uns dos outros, embora permitam remissões entre si. Clássica também porque toda a exposição assenta num género artístico – a paisagem – estabelecida, como tal, há mais de quinhentos anos. Mas mais do que um género, Poems for Tourists deixa claro que a paisagem para Barateiro vale, sobretudo, como uma construção e lugar de conflitos, tão sensitivos, quanto políticos, e, nesse sentido, é também ela já muito pouco clássica.
Crítica — por José Marmeleira
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Não será exagerado afirmar que a obra de Mattia Denisse (França, 1967) se tem vindo a desvelar, progressiva e lentamente, ao público. Ou seja, a ganhar uma existência que não aquela determinada apenas pelas condições do atelier. Depois dos desenhos de Duplo Vê, na Galeria Zé dois Bois, em 2017, das serigrafias e dos desenhos em Hápax na Culturgest de Lisboa, chegou a vez da pintura, agora, em Pau-podre na Rialto 6, com a curadoria de João Maria Gusmão. Trata-se de uma exposição exuberante que dispensa, como de certo modo já havia acontecido nas precedentes, o formato mais tradicional do cubo branco. Em boa verdade, o trabalho de Mattia Denisse sempre se caracterizou por uma bem-humorada e, por vezes, circunspecta imoderação.
Crítica — por José Marmeleira
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Podemos dizer que Ó (ó agudo), exposição retrospectiva de Sónia Almeida na Culturgest, com a curadoria de Bruno Marchand, coloca uma pergunta que traz consigo outra pergunta. A primeira pode tomar a seguinte forma: como podemos hoje ver pintura? A segunda pode ser formulada assim: como podemos hoje pensar e, portanto, compreender a produção digital de imagens com base nos elementos constituintes da pintura? Num primeiro encontro com Ó (ó agudo), que reúne obras produzidas na última década e meia pela artista, não encontramos apenas opções pictóricas que associamos ao tempo do modernismo. Descobrimos, igualmente, referências a imagens pixelizadas (Nove e Meia e Ambidestreza), alusões a arquivos digitais (Bolsos e Mentiras) e padrões reticulares (Acelerando nas Rotundas) que nos trazem à memória superfícies não-pictóricas.
Crítica — por Sara Castelo Branco
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Concebida para o espaço expositivo do Rialto6, Untitled (It’s About That Time crystal version) é constituída por uma sala forrada com espuma de isolamento aberta sobre uma vitrina que revela a paisagem urbana exterior. No interior desta câmara encontra-se uma escultura em vidro soprado por trompete e transferido para cristal, que representa os 13 segmentos de 20 segundos organizados em três grupos de frequências baixas, médias e altas, pertencentes a parte da composição It’s About That Time (1969) de Miles Davis. Este mesmo trecho da obra do músico norte-americano surge numa partitura presente numa antecâmara desta sala principal. A primeira visão sobre a exposição acontece porém no lugar ruidoso da rua, pelo intermédio desta espécie de vitrina, desacordando com a experiência silenciosa dentro da sala da exposição.
Crítica — por Maria Kruglyak
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Dando continuidade ao mito de Drexciya — originalmente criado na década de 1990 em Detroit pela dupla de techno afrofuturista homónima, constituída por James Stinson e Gerald Donald —, o Otolith Group (Anjalika Sagar e Kodwo Eshun) convida-nos a entrar na espacialidade especulativa subaquática de A Sphere of Water Orbiting a Star, patente no HANGAR — Centro de Investigação Artística. Com curadoria de Margarida Mendes, esta exposição vincula a lendária contracultura drexciyana à realidade atual e histórica da economia esclavagista atlântica — um contexto em que as companhias de seguros chegavam a pagar indemnizações pelo homicídio de pessoas escravizadas. Abarcando uma investigação crítica na qual se inclui um espaço arquivístico semificcional, uma instalação multicanal e uma apresentação semanal de Hydra Decapita (2010).
Entrevista — por Margarida Mendes
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James Newitt (JN): Apresentei uma primeira iteração do projeto no Porto há dois anos e muitos dos fios narrativos e de investigação dessa iteração ainda estão evidentes na exposição na Galeria da Boavista, embora tenham sido mutações ao longo do tempo. Na verdade, iniciei a investigação inicial deste projeto há 10 anos, quando comecei a estudar a história das micronações e, especificamente, de Sealand. Alguns dos materiais de investigação presentes na exposição não foram elaborados com a intenção de serem mostrados publicamente. Os e-mails, por exemplo, foram uma tentativa genuína de estabelecer contacto com o fundador do data haven e de marcar uma entrevista com ele.
Crítica — por Bernardo José de Souza
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Uma tempestade havia coberto a cidade de neve justo no dia anterior à minha chegada à Helsinki. Do aeroporto, tomei um trem até o KIASMA, onde Daniel Steegmann Mangrané estava finalizando a montagem de seu solo show: A Leaf Shapes the Eye — uma espécie de exposição retrospectiva, cobrindo um arco temporal de pelo menos 25 anos, a maior parte dos quais passados no Brasil, onde o artista de origem espanhola desenvolveria uma obra marcadamente inspirada e derivada da natureza abundante e tropical encontrada não apenas no Rio de Janeiro, sua cidade de adoção, mas na Mata Atlântica como um todo, bem como na Amazônia e alhures.
Crítica — por Isabel Nogueira
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Jennifer Allora (n. 1974) é norte-americana e Guillermo Calzadilla (n. 1971) cubano. Ambos vivem e trabalham em Porto Rico, a ilha caribenha plena de contrastes entre o turismo que se impõe e uma vivência simples e antiga, enraizada no que o mar turqueza dá — daí, precisamente, a denominação porto rico. Trata-se de realidades contrastantes às quais se junta o legado colonialista espanhol. Esta proposta expositiva, com curadoria de Philippe Vergne e Inês Grosso, representa uma retrospectiva do trabalho dos artistas e chama-se Entelechy, título homónimo da mais impactante peça do conjunto: uma imensa escultura em carvão negro (2021), executada a partir de uma árvore atingida por um raio, cuja apresentação é acompanhada por uma música de David Lang, activada pelo espectador.
Crítica — por Sérgio Fazenda Rodrigues
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A exposição de Ana Santos na Fundação Culturgest, em Lisboa, apresenta-nos uma selecção de obras produzidas entre 2015 e 2023, e surge sem uma pretensão retrospectiva, e sem o propósito de mostrar, apenas, a sua produção mais recente. De forma irónica, adopta-se o nome Colecção Primavera – Verão, mas cruzam-se fases distintas que, numa escolha atenta, convidam a perscrutar o modo como a artista pensa, concebe e apresenta o seu trabalho. Ocupando as salas do piso de cima e optando por manter o local aberto, Ana Santos deixa que as obras povoem o espaço, gerindo relações de proximidade e afastamento que nascem da sua natureza e do seu criterioso posicionamento. Ao entrarmos na antecâmara da exposição, a primeira referência é-nos dada por um papel de parede, onde uma imagem digital ficciona uma queda de água.
Crítica — por Estelle Nabeyrat
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Após a inauguração de um novo projeto na Kunst-Werke Berlin (Identical, de 10 de junho a 10 de agosto), a artista e cineasta britânica Emily Wardill apresenta a sua obra em Hourless and at large, patente na Casa São Roque durante o resto do verão. Fundada na intersecção entre o experimental e o retrospetivo, esta exposição apresenta-se como uma espécie de esclarecimento sobre o complexo e polimórfico trabalho da artista. Wardill tem criado uma notável reputação com os seus projetos de instalação e filmes, três dos quais se encontram atualmente em apresentação na Casa São Roque: Game Keepers Without Game (2009), que lhe venceu o Jarman Award em 2010, I Gave My Love a Cherry that Had No Stone (2016) e Night for Day (2020).
Entrevista — por Eduarda Neves
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Ricardo Nicolau é um curador de exposições que trabalha desde 2006 no Museu de Serralves como adjunto da direcção. Entre as últimas exposições que comissariou destacam-se individuais de Nora Turato (2019), Hugo Canoilas (2020), Lourdes Castro (2022) ou ainda colectivas como "Zéro de conduite" (2018) e "Uma Exposição Escrita" (2022). Além disso, desenvolveu em 2022 um projecto com os estabelecimentos prisionais de Custóias e Santa Cruz do Bispo para os quais convidou os artistas Tiago Madaleno e André Cepeda a aí intervirem. Actualmente, prepara com uma equipa de curadores de Serralves a exposição inaugural da extensão do museu (a inaugurar em 2024) e a próxima edição de O Museu como Performance (4 e 5 de Novembro). Publicou recentemente o livro Ana Ana Ana, dedicado à artista Ana Jotta. "A quem possa interessar: uma coleção, uma carta" , foi o ponto de partida desta conversa.
Crítica — por José Marmeleira
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"Boy At Work", patente até 23 de Julho na Lumiar Cité, consiste na primeira exposição de Cosima von Bonin em Portugal. É caso para regozijo e, até, algum espanto se se tiver em conta a extensa carreira desta artista alemã e a sua correspondente notoriedade internacional. Nascida em Mombaça, Quénia em 1962, Cosima von Bonin iniciou o seu percurso nos finais dos anos 80, envolvida na artística da cidade de Colónia. Foi neste contexto, também, que se relacionou com Martin Kippenberger, Georg Herold, Rosemarie Trockel, Isa Genzken, Albert Oehlen, Jutta Koether Michael Krebber, entre outros nomes. Considerando a produção da maioria destes artistas, é possível situar a obra de Cosima von Bonin num certo universo: aquele influenciado pela crítica que a arte conceptual e a performance, nos Estados Unidos dos anos 60 e 70, dirigiu (ou tentou dirigir) ao mercado da arte e à fetichização do objecto artístico. Com efeito, a arte que podemos encontrar na Lumiar Cité ainda é tocada pelo fervor contracultural desse período, ou pelo menos, por aquilo que dele resta.
Crítica — por Maria Kruglyak
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Comissariada pela/em conjunto com a Pântano Books (Alice dos Reis e Isadora Pedro Neves Marques), a exposição Escondidas na caverna que forjamos umas das outras, de CAConrad, no Batalha Centro de Cinema, revela-se uma teia mágica tecida a partir das formas da poesia, do cinema, da edição, da exposição e da performance. Sensível e generosa, esta mostra apresenta CAConrad, lenda viva da poesia norte-americana, e a sua obra poética e ritualista ao público e à cena artística portuguesa, abrindo também caminho à criação de uma comunidade genuína. Reis e Neves Marques, por sua vez, são jovens artistas portuguesas consagradas por direito próprio que trabalham nos campos da arte visual, textual e cinematográfica.
Ensaio — por Luísa Santos
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A história do texto que inicia a rubrica "Institution(ing)s", e da investigação com o mesmo título, começou num encontro com os desafios atuais dos museus de arte contemporânea no Tate Intensive: Making Tomorrow’s Art Museum, um programa de uma semana na Tate Modern, em Londres, em 2016, que juntou cerca de 30 profissionais das artes visuais do Brasil, China, Coreia do Sul, Rússia, Grécia, Portugal, Austrália, Nova Zelândia, Canadá, EUA, India, e Reino Unido. Encontrámo-nos na recém-inaugurada extensão do edifício, cuja construção e manutenção teve e tem um impacto tremendo no meio ambiente, impacto esse que é sentido de modos diferentes nas diferentes partes do mundo que a instituição diz querer representar.
Crítica — por Ana Salazar Herrera
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A Casa das Culturas do Mundo (Haus der Kulturen der Welt, ou HKW), em Berlim, construída originalmente em 1957 por oferta dos EUA enquanto pavilhão de congressos e transformada em espaço artístico em 1987, esteve encerrada para remodelação durante vários meses, tendo reaberto recentemente com um big bang sob a direção artística do curador camaronês Prof. Dr. Bonaventure Soh Bejeng Ndikung. Desde então, tem-se vindo a desdobrar todo um novo universo coletivo no interior e no exterior desta singular instituição de prestígio. Parece que cada tijolo do edifício foi ressignificado para não apenas repensar e problematizar mas também construir e pôr em prática conceitos alusivos à Casa, as complexidades das Culturas e as ideias de Mundo. Antes de examinarmos a comovente exposição inaugural, para a qual a equipa curatorial trabalhou durante mais de um ano, estudemos primeiramente os atos vitais que persistirão bem para lá do encerramento da mostra.
Entrevista — por Gisela Casimiro
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De Henrietta Lacks a Jeanne/Jean Baret e Jenny Larrue, Herlander e Tita Maravilha, muitas são as inspirações da exposição FOGO POSTO, de Diana Policarpo e Odete, em exibição na Lehmann Silva, no Porto, até 31 de Julho. Originada no projecto COMUNIDADE ENQUANTO IMUNIDADE (2020), em parceria com a Contemporânea, precedida pela exposição LYSIS (2021), com curadoria de Ana Cristina Cachola e acolhida pelo Armário, em Lisboa, FOGO POSTO é o culminar de três anos de trabalho conjunto. O texto de folha de sala é da autoria de Joana Rafael. Por entre desenhos, vídeos, sons, mapas, espécimes e sonhos, as artistas conduzem-nos por um universo de ficção especulativa, expedições botânicas, reflexões sobre corpo e consentimento, desde os primórdios da ciência até ao futuro.
Crítica — por Maria Kruglyak
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Patente na Kunsthalle Lissabon, a exposição Dors petit dors, de Sara Sadik, é uma meditação hipnótica e empoderadora sobre a superação de uma infância difícil. Esta instalação multimédia como que assume um carácter performativo, dividindo-se entre o mundo virtual de uma instalação de vídeo na qual se assiste passivamente a um walk-through de um jogo de consola e o onírico espaço físico da galeria, pintada em tons de amarelo azul. Com título inspirado na música homónima do rapper francês JUL — uma canção sobre as crianças cujas realidades não se enquadram na imagem de uma "família feliz" —, a montagem da exposição procura espelhar o estado de sonolência que acompanha uma canção de embalar, transportando o espetador para o intervalo entre a realidade física e virtual.
Ensaio — por João Sousa Cardoso
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Que Martha Rosler (1943) exponha, neste momento trágico de guerra na Europa, numa cidade alemã tão sacrificada pelos bombardeamentos da aviação americana na 2ª Guerra Mundial como Frankfurt, não será um acaso. Martha Rosler. In One Way or Another, a exposição retrospetiva da artista americana que o SCHIRN Kunsthalle de Frankfurt lhe dedica traduz a mesma vontade de intervenção que invariavelmente guiou o olhar, a mão e a palavra de um dos nomes mais politizados da cena contemporânea. Feminista, ativista anticapitalista, pioneira da vídeo arte e pedagoga (lecionou em diversas universidades e é professora emérita da Rutgers University de New Jersey), Martha Rosler personifica hoje uma das vozes da resistência política mais autorizadas a tomar assento em conferências internacionais sobre fotografia, media e teoria crítica da comunicação.
Entrevista — por José Marmeleira
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Mariana Gomes apresenta a sua segunda exposição individual na galeria Cristina Guerra —"Neo-Pós-Neo" — que, segundo a própria, é uma referência a uma espécie de novo movimento que já não existe. A Contemporânea conversou com a artista sobre os seus vinte anos de actividade ao serviço da pintura e do desenho.— Mariana Gomes: MG: Sempre fui uma desenhadora compulsiva, até de um modo um pouco aflitivo. Não conseguia estar numa esplanada sem estar a desenhar. Estava constantemente a desenhar. Tinha uma afinidade com o desenho que não tinha com a pintura. Mas quando termino a faculdade, fico praticamente um ano a pintar. Quase não desenho e é quando começo a trabalhar como assistente de bordo que volto ao desenho. De algum modo, era como se estivesse a levar a minha casa às costas. Levava o meu mundo comigo através do desenho. Essa compulsão voltava, assim, outra vez e a pintura tornava-se mais espaçada. Agora estou numa situação diferente. Talvez agora por estar tão focada na pintura, penso em voltar a trabalhar no desenho...
Crítica — por Paula Ferreira
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Desde um Sol artificial, uma fonte de luz e calor concentrados, o tempo dentro da sala escura é marcado por um cíclico apagar e reacender — uma simulação da natureza intermitente do curso de um dia. Ao redor, qualquer materialidade se dissipa, abandonando o corpo em um negro vácuo e, assim, tornando esse Sol a única referência espacial possível. Como se presenciássemos um momento para além do futuro, no qual poucos resquícios de humanidade persistiram, tal Sol se transmuta em uma estrutura metálica de presença opressora e divide a origem de sua luz, antes única, em pequenas esferas, como réplicas de si mesma. No fundo oposto da sala onde o novo Sol ostensivamente se faz presente, três objetos feitos para a escuta e reprodução sonoras possibilitam a perturbação do sepulcral silêncio. Pela primeira vez desde que adentramos o espaço, alguma presença familiar é reconhecível: um adulto e uma criança engajam em uma conversa sem perceptível linearidade ou nexo, mas que, entretanto, possui um evidente caráter dialógico.
Crítica — por Enzo Di Marino
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"Pheromones and Gentlemen" é absolutamente uma exposição — a segunda de Anna Hulačová na Galeria Pedro Cera, em Lisboa — que, à primeira vista, pode ser qualificada como "estatuária"; porém, percebemos rapidamente que existe um pequeno curto-circuito na clássica oposição sujeito-objeto. Ao entrar na galeria, chama-nos imediatamente a atenção um grupo de homens esculpidos em cimento. Estes cavalheiros, convocados a partir de um passado menos recente, parecem conversar e fumar com a maior tranquilidade, inteiramente alheios àquilo que os rodeia. (Até ao facto de que um deles está encostado a um ferro de engomar gigante! Mas já lá vamos.) Talvez a primeira característica que se evidencia seja a vigorosa materialidade das obras — todos os detalhes esculpidos em cimento irradiam um cinzento de uma anonímia ofuscante. É impossível ficar indiferente à forma como a artista manipula a matéria através de uma habilidosa articulação de volumes e texturas, assim atribuindo ao cimento uma plasticidade que normalmente se associa a materiais mais nobres. Até aqui, tudo parece normal; mas logo notamos
Crítica — por Paula Ferreira
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Assente na ideia da escuta enquanto origem de práticas criativas e metodologia de pesquisa e trabalho, The Listening Biennial é um projeto transcontinental e contínuo, do diretor artístico Brandon Labelle, no qual artistas e curadores são convidados a criar uma programação que atravessa territórios geográficos e disciplinares. Nesta edição, Luísa Santos, Guely Morato, Dayang Yraola e Rayya Badran são as curadoras convidadas a pensar a mostra que acontece simultaneamente em diversos países e instituições e traz um conjunto de trabalhos em áudio, performances experimentais e conversas. Através da ideia de “partilha, reciprocidade, troca e mutualidade”, reafirmam o interesse e a necessidade em pensar as ecologias da atenção no contexto contemporâneo. A exposição homônima do projeto, patente até o próximo dia 8, encontra nesses ideais uma maneira de convidar o público à pausa e à permanência.
Crítica — por Enzo Di Marino
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La Révolution R.S.V.P. é a primeira exposição individual do artista italiano Pablo Echaurren (Roma, 1951) em território português. Com apoio do Italian Council, um programa criado com o objetivo de promover a arte italiana além-fronteiras, esta exposição procura representar a prática complexa e heterogénea de um artista excecionalmente atípico. Através de um amplo conjunto de obras — algumas das quais apresentadas pela primeira vez — que se compõe de desenhos, pinturas, tecidos, jornais, magazines e outros materiais de arquivo, a mostra de Echaurren configura um relato da história da agitação cultural que se viveu em Itália na década de 1970.
Crítica — por Isabel Nogueira
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O Verão entrou pelas nossas vidas. Começamos a desacelerar depois de uma temporada com muitas propostas artísticas. As exposições que escolhemos debruçam-se sobre aspectos francamente relevantes, como a ecologia ou questões relacionadas com as práticas feministas na fotografia. Ambas com um forte pendor de investigação e activismo político. São, sobretudo, exposições onde estas temáticas não cumpram apenas a agenda do momento. E, assim, encerramos esta rubrica, até à rentrée.
Crítica — por José Marmeleira
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Intitulado "Território" o novo ciclo de exposições da Culturgest e da Fidelidade Arte, sob a concepção de Bruno Marchand, sinaliza uma série de mudanças em relação aos ciclos anteriores. No lugar de exposições individuais, encontrar-se-ão, nos próximos três anos, exposições colectivas pensadas por noves curadores portugueses convidados. Em termos de curadoria, o contexto é o da abertura e o desafio é o da afirmação de heterogeneidades. Pretende-se que cada curador possa trazer para o espaço expositivo não apenas obras de arte contemporânea, mas, também, objectos oriundos da antropologia, da etnologia, da documentação ou apenas das periferias ou das latitudes menos centrais da arte contemporânea.
Crítica — por Shahd Wadi
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Fora das suas fronteiras e ainda antes de me encaixar no espaço dedicado à exposição “Histórias de uma Coleção: Arte Moderna e Contemporânea do CAM” [Centro da Arte Moderna], observo os corpos do público visíveis por detrás do vidro. De fora, parecem esbater-se com outros corpos que habitam as obras estendidas no azul do mural que abre a porta desta exposição. Entrelaçam-se com o corpo de uma Rapariga com manjerico (1930), de Paulo Ferreira, o corpo de Salvador Dalí (1975), na fotografia de Pape Diniz, o corpo de uma bailarina (1954), captado por Victor Palla, e o corpo no trabalho de Karel Appel realizado em 1970 que parece uma tradução do gesto corporal do próprio artista a espalhar as cores, como se tratasse de um espetáculo de arte marcial.
Crítica — por Cristina Sanchez-Kozyreva
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Relocalizada do bairro homónimo para a área alargada da freguesia da Estrela, a Galeria Madragoa ocupa agora um novo espaço com um pé-direito generoso e janelas arqueadas de pedra, numa atualização para um estilo mais circunspecto. Não obstante esta transição, a galeria continua empenhada na apresentação de práticas artísticas mais travessas e, em particular, das obras de jovens artistas. Em linha com este ponto, a exposição inaugural da nova Madragoa é New Works 2023, uma série de pinturas escultóricas da artista franco-argelino-suíça Sarah Benslimane, nascida em 1997 e atualmente radicada em Genebra. Para esta mostra, Benslimane homenageia — e tem como ponto de partida — as convenções da abstração geométrica, apresentando um conjunto de telas tridimensionais de grandes dimensões e cromática pop.
Crítica — por Paula Ferreira
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É nesse pequeno cosmo, permeado pela discreta presença da luz, que os dois primeiros momentos, Paraíso e Paraíso Perdido, inauguram uma dialética entre o artifício e a construção cultural de sentido. A partir dos títulos dados aos capítulos do último filme realizado por Murnau, Tabu, os dioramas são exemplares da metodologia empregue por João Gil. Nela, dificilmente se percebem acasos em relação à eleição por um suporte: quando, na obra Sem Escape, é desnudado o interior de um computador e o seu bastidor de servidor serve de pedestal para um ecrã que reproduz, em loop, um vídeo de arquivo no qual se vê uma perseguição a duas zebras em uma savana, é proposital que imagem em movimento e aparato técnico, juntos, constituam uma mesma escultura instalativa.
Entrevista — por Carolina Pelletier Fontes
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O Armário é uma proposta expositiva que surge em Abril de 2014, provido de um carácter intimista e ancorado em vários outros projectos que o antecedem — o ciclo expositivo 5 estrelas e a Montra, que coabitaram sempre no número 128 da Calçada da Estrela, em Lisboa. Estes projectos relacionavam-se de forma independente, cada um detentor das suas próprias características expositivas. O factor comum: Benedita Pestana, a curadora destas iniciativas. No tempo d’A Montra, em 2013, Benedita desafiava artistas a criarem obras para serem vistas somente do exterior (a rua). Uma das primeiras propostas foi de Catarina Botelho, com Inventário, uma montra que distinguia uma seleção de lojas Lisboetas encerradas devido à instabilidade económica vivida na altura.
Crítica — por Maria Kruglyak
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Quando se fala de ecologia e ação ambiental, a conversa costuma devolver um pavor existencial relativamente à sobrevivência da raça humana. Motivado pela irrefreável exploração da Terra, este pavor recai tanto numa tendência de contornar estas questões como noutras manifestações de defesa do ambiente, assim gerando um bloqueio que dá procedência à atual trajetória da crise ambiental. Como tal, foi de uma alegria imensa ver que os artistas expostos em Mater e aqueles que participaram em Pela Terra: Gathering of Art and Ecology seguiram uma abordagem inteiramente distinta: um ambientalismo fundado na comunidade, na atenção, na ação de cuidar e, em última instância, no amor.
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