Crítica — por Susana Ventura
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Duas figuras conceptuais (poderemos pensá-las enquanto tais) elevam-se do percurso que efectuamos pela instalação "Descolonizar o Pensamento" (2013-2021), de Carlos Bunga, que tanto se afirma enquanto obra de arte autónoma, como se transfigura em cenário para acolher outras obras: quatro filmes de curta duração, exibidos alternadamente ao longo da duração da primeira parte da Anozero’ 21-22 - Bienal Internacional de Arte de Coimbra sob o título "Meia-Noite" e curadoria de Filipa Oliveira e Elfi Turpin, e um conjunto de esculturas angolanas, que Bunga seleccionou a partir da colecção etnográfica do Museu da Ciência da Universidade de Coimbra.
Entrevista — por Miguel Mesquita
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Esta conversa com Vicente Todolí parte da exposição DIA, de Carsten Höller, patente no MAAT até ao dia 28 de Fevereiro. Todolí é um curador espanhol de arte contemporânea que já dirigiu vários museus e centros de arte internacionais. Com mais de 30 anos de carreira, foi curador-chefe e diretor artístico do Instituto Valenciano de Arte Moderna, em Espanha. Foi, igualmente, director-fundador do Museu de Serralves no Porto e dirigiu a Tate Modern entre 2003 e 2010. Actualmente, e desde 2012, Todolí é diretor artístico da Fundação Pirelli HangarBicocca, em Milão, onde tem apresentado exposições de artistas como Cildo Meireles, Juan Muñoz, João Maria Gusmão + Pedro Paiva, Carsten Höller, Miroslaw Balka ou Mario Merz.
Crítica — por José Marmeleira
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Em "Lusque-Fusque Arrebol" coexistem o prazer ótico que as ilusões despertam e os projetores, com o seu ruído mecânico e repetitivo. Estes continuam ali, a impedirem a sedução completa, o isolamento do espectador no reino dos fenómenos e das sensações. Mas a exposição não começa com as imagens em movimento. No primeiro piso da galeria, estão desenhos e esculturas que se transfiguram no espaço. Os primeiros vemo-los enquadrados em paredes/painéis que criam planos e zonas. As segundas surgem em discretos plintos, a uma escala quase miniatural. Uma cor, um alaranjado intenso e seco que replica a aparição do crepúsculo, envolve as peças, criando a ilusão de um cenário ou mesmo de uma cena.
Ensaio — por Eduarda Neves
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Num dos seus conhecidos textos, "A arte depois da filosofia", Joseph Kosuth confronta-nos com diversas proposições sobre a função da arte argumentando que a sua única exigência é consigo própria. Afirma que, depois de Duchamp, o valor de alguns artistas deve ser entendido de acordo com o que acrescentaram à concepção de arte e o modo como a problematizaram. Recordemos que é o próprio Duchamp a admitir que não atribui ao artista “uma espécie de função social” em que ele se ache obrigado a “fazer qualquer coisa, em que tenha um dever para com o público.” Confessa ter “horror a todas essas considerações.” Kosuth cita ainda Ad Reinhardt: “a única coisa a ser dita sobre a arte é que é uma coisa. A arte é arte-como-arte e todo o resto é todo o resto. A arte como arte não é nada além de arte. A arte não é o que não é arte.”
Entrevista — por Gisela Casimiro
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Nem sempre temos a oportunidade de ter um artista e professor a guiar-nos pela sua exposição, conversando candidamente sobre o seu trabalho e motivações. Tive essa sorte com “Fracture Empire”, de Samson Kambalu e curadoria de Bruno Marchand, patente na Culturgest até 6 de Fevereiro. Dias antes, assisti à sua palestra sobre a questão da dádiva, sempre presente no seu trabalho. O seu trabalho artístico é encarado como uma dádiva, na verdade, e aí começa a problematização desse acto. Para Kambalu, é importante ser-se competente e subtil enquanto doador, é importante que quem recebe quase não perceba que algo está a ser-lhe oferecido, algo que compara com o que se percepciona depois de ler Nietzsche. Devolver uma prenda é amaldiçoá-la. Devemos dar uma prenda sem que alguém repare.
Crítica — por João Sousa Cardoso
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“Um homem violento, atrabiliário e agitador não deve ser eleito para dirigir um país.” é um dos muitos provérbios citados que lemos nas paredes da escada de emergência que liga os 8º e 9º pisos em que se divide a exposição Um Brasil para os Brasileiros no Instituto Moreira Salles (IMS), no edifício inaugurado em 2017, no limite da Avenida Paulista, junto à Rua da Consolação. O diretor artístico da instituição, João Fernandes, sobe connosco as escadas com o entusiasmo da partilha de uma passagem quase secreta da exposição que é um manifesto dedicado à escritora Carolina Maria de Jesus e um comentário sobre o estado do Brasil.
Ensaio — por Filipa Correia de Sousa
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A quem muito desenha, o traço desponta consciente, trabalhado, seguro, mas muitas vezes, surge de forma imprevista. A quem muito desenha, os gestos sobre o papel, embora atentos, acontecem mediante um exercício de descoberta que se desenrola numa estranha, mas delicada incerteza de não se lhe conhecer o resultado de antemão. Surgem, antes, atendendo a um ponto de partida necessariamente instintivo, venturoso, livre, que não se rege pela premeditação do que ali se vai construir e suceder. As decisões do gesto fluem soltas, autónomas. No aparente acaso, o gesto não se limita, mas move-se, em virtude de um ritmo que lhe é conhecido, sob uma determinada coerência, uma determinada harmonia.
Crítica — por Gabriela Vaz-Pinheiro
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Abro um dos vários catálogos de Alberto Carneiro disponíveis nas estantes da entrada do Museu. Não sei se o fiz antes ou depois de ver a exposição “Alberto Carneiro – A Natureza em Movimento” patente até 22 de Fevereiro no Museu Internacional de Escultura Contemporânea em Santo Tirso, com curadoria de Catarina Rosendo. A frase com que inicio este texto é a primeira do texto “As Dúvidas da Arte em Mim” extraído de “Notas para um Diário”, escrito em Santiago do Chile em 2006 e presente naquele catálogo que, no entanto, é de uma outra exposição . Penso como tudo está ligado. Como nos movemos por tão diferentes dimensões da geografia e do tempo.
Entrevista — por João Seguro
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Ernesto de Sousa (1921-1988) foi uma figura multifacetada e muito importante da vanguarda portuguesa, artista, poeta, crítico, curador, editor, cineasta e promotor de ideias e expressões artísticas experimentais. Esta exposição, organizada por ocasião do centenário do nascimento de Ernesto de Sousa, pretende prestar homenagem à sua abordagem caleidoscópica da arte através de um diálogo intergeracional e trans-histórico com a sua obra e os seus arquivos. Refletindo sobre questões como a hierarquia, a autoria e a complexidade de enquadrar, encapsular ou dividir as múltiplas e complementares práticas de Ernesto de Sousa – cujo lema «O Teu Corpo é O Meu Corpo, O Meu Corpo é O Teu Corpo» funciona como manifesto poético –, esta exposição apresenta os diferentes aspetos da sua obra (visual, poética e teórica) e a sua extraordinária capacidade de criação de conceitos. As obras, os arquivos e os textos serão objeto de releituras, aliterações, deslocações e ativações realizadas por meio de intervenções pontuais de artistas contemporâneos portugueses e internacionais na qualidade de diversos «operadores estéticos».
Crítica — por Luísa Santos
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Em 2021, com o as obras de ampliação que viriam a determinar o encerramento do edifício do CAM, deu-se início ao programa fora de portas, com uma metodologia com afinidades às propostas de Hirschhorn. CAM em Movimento inspira-se na ideia da pintura em movimento de Alexander Calder, uma pintura que ganha tridimensionalidade e está em constante performance no espaço e, com esta programação artística sem paredes fixas, aponta para uma desmaterialização do museu. Deste modo, junta-se a uma tradição de iniciativas de programação em espaço público, de práticas parasíticas (seguindo a noção de Michel Serres que recuperarei no final deste texto) que são prática comum — apesar das diferenças, muitas vezes sistémicas, nomeadamente no que concerne os recursos humanos e financeiros disponíveis.
Crítica — por Susana Ventura
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Existem horas mágicas. O crepúsculo é uma delas, assinalando o intervalo, a passagem, a diferença entre estados, que acreditamos serem físicos, da nossa existência aqui neste lugar, que ainda não compreendemos totalmente, e aqueles outros que revestimos com palavras evocativas, capazes de acordar diferentes emoções. Os símbolos só funcionam quando conhecemos os seus significados, como dizia Louise Bourgeois. No entanto, há essa particularidade inegável do crepúsculo que advém da variação luminescente fugaz, muito breve, de um azul claro (naquele dia era azul limpo de sol de Inverno) a azul escuro, muito escuro, logo a seguir, até se eclipsar em negro de noite. Acabou por ser uma coincidência ter visitado a exposição "Strange Attractor", com a curadoria de Margarida Mendes, no Pavilhão Branco sob esta luz crepuscular. Encantada pelo som dos pavões já no cimo das árvores na sua canção de embalar, demorei a entrar, quando notei que fora a hora precisa para a descobrir.
Crítica — por Isabel Nogueira
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Esta rubrica da Contemporânea elege quatro exposições circunscritas a um tempo e lugar específicos. Um dos objectivos é mapear o cenário artístico da cidade, identificar tendências de fundo e reflectir sobre as propostas escolhidas. No roundup #3: Alexandre Estrela @ZDB; Maria Capelo @ZDB; Ricardo Jacinto @Galeria Bruno Múrias; Joana Escoval @Galeria Vera Cortês.
Ensaio — por AnaMary Bilbao
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A mitologia e a poesia antiga, como lembra Henry D. Thoreau (1817-1862) em "Walden; Or, Life in the Woods" (1854), sugerem que outrora a lavoura foi uma arte sagrada, mas hoje é praticada por nós com uma «pressa e negligência irreverentes», no objetivo primeiro de possuir e colher. A realidade que se perpetua no tempo é a de um desejo maior em «encarar o solo como propriedade». Conhecemos a natureza apenas como «saqueadores», lançando ao esquecimento o carácter sagrado que lhe foi noutros tempos outorgado. Thoreau remete para o início da Revolução Industrial, momento a partir do qual se torna crescente um desapiedado endeusamento dos bens materiais e uma profunda redução do espírito. Como voltar ao diálogo com Saturno e Ceres, esses deuses solares da renovação, da criação e da libertação?
Entrevista — por Susana Ventura
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A seguinte conversa decorre de um encontro entre os artistas Mariana Caló e Francisco Queimadela, e Susana Ventura sobre a exposição "Flor Fantasma", com curadoria de Ana Anacleto, actualmente no Centro de Artes Visuais de Coimbra, que surge, aqui, sob a forma de guião implícito, revelando gestos e impressões de um fazer e de um experienciar a obra de arte. Na primeira sala, vê-se "Subir e sumir" (2021), um filme que filmámos em 16mm nos meses em que estivemos em Trás-os-Montes durante o primeiro confinamento. Estas imagens nunca chegaram a tempo de "Corpo Radial", andaram perdidas entre o laboratório na Roménia e Portugal, no caos gerado pela pandemia. Não foi mau que tivessem andado desaparecidas, mais tarde percebemos que não faziam boa continuidade naquele contexto e aqui decidimos que era um bom momento para as abrir. Nunca chegaste a ver essas filmagens na altura, mas deves ter reconhecido pelas descrições que fizemos.
Crítica — por José Marmeleira
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Na Kunsthalle Lissabon, "A house for a gentleman" do artista italiano Giulio Scalisi (Salemi, 1992) reafirma uma abordagem que tem caracterizado, em especial nos últimos dois anos, o projecto dirigido por Luís Silva (actualmente com curadoria de Alberta Romano). Ao recriar as condições arquitectónicas do espaço, a KL é um lugar que excede o significado mais tradicional (moderno) do que é ou deve ser um espaço expositivo e uma exposição. Esta, na sua acepção comum e alicerçada em protocolos reconhecíveis, passa a ser concebida enquanto experiência que se dá fora da realidade quotidiana. Dir-se-á que é o que fazem todas as exposições. Ora, por meio da ficção, da encenação, do artifício, a KL permite que entremos noutro lugar, não isolado do mundo, mas física e visualmente separado da realidade mais mundana. Nesse lugar, o espectador vê e pensa, e, por vezes, diverte-se, espanta-se, irrita-se, impacienta-se.
Entrevista — por Alberta Romano
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Quando a prática da artista com quem conversas é profusa em camadas e ramificações e nela revês a tua própria sensibilidade, pensar numa introdução que esteja à altura da sua obra torna-se uma tarefa particularmente difícil. Foi o caso de Henrike Naumann, com quem tive o prazer de conversar pela primeira vez via Skype há uns poucos dias. Parte do prazer que esta chamada me deu teve que ver com a autenticidade da conversa. Henrike quis falar-me do seu mundo, da sua pesquisa, da sua infância, sem que nada parecesse forçado, como se já nos conhecêssemos há algum tempo; trocámos ideias, memórias e alguns conselhos. Ainda assim, aquilo que me deu maior satisfação (uma satisfação porventura egotista) foi poder dizer: "Eu sabia que ela ia ser um ser humano fantástico. Soube-o assim que vi uma peça dela pela primeira vez."
Crítica — por Cristina Sanchez-Kozyreva
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A exposição Side facing the wind, de Silvia Bächli, assemelha-se a uma lufada de ar fresco. Elaborada a partir do ateliê, a sua gramática — pinceladas lisas de guache em tons terra sobre folhas de papel brancas — traz às salas da galeria uma energia descontraída. Aqui, uma série de faixas horizontais em tonalidades avermelhadas plasmam-se sobre as paredes como se de pautas musicais se tratassem, surgindo ao longo da exposição numa sucessão de refrões; ali, stick figures minimais em tonalidade cinza asfalto mostram-se a correr em conjunto, como se em sugestão de uma corridinha alegre para fugir ao chuvisco outonal — ou talvez sejam cruzamentos vistos de cima, algum género de símbolo arcaico da intersecção das estradas contemporâneas. De facto, alguns desenhos encontram-se repletos de sobreposições, como que refletindo as densas artérias de uma grande metrópole.
Artigo — por Isabel Nogueira
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É uma geração de artistas que vai partindo e que não nos deixa indiferentes. Em muitos casos, as suas produções artísticas iniciaram-se ainda no final dos anos 50, num Portugal fechado, colonialista, reaccionário e conservador. Lourdes Castro (1930-2022) foi uma destas artistas que, tal como muitos outros e outras, rumaram a alguns países da Europa e, por vezes, também do continente americano, principalmente entre finais da década de 50 e meados da década de 70, destacando-se a acção de auxílio financeiro, a partir de 1957, por parte da Fundação Calouste Gulbenkian. De facto, o papel da Gulbenkian neste contexto foi preponderante, permitindo aos artistas a saída do país, no sentido da consolidação das suas carreiras e, claro, de novas vivências, de abertura ao mundo e da urgência em respirar liberdade.
Crítica — por David Silva Revés
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No anexo A do nº128 da Calçada da Estrela, em Lisboa, acontece, desde 2020, o projecto Quéréla, fundado e programado por Ana Cristina Cachola, igualmente responsável pela curadoria dos momentos artísticos que aí têm sucedido. Em estreita colaboração e proximidade com O Armário [espaço expositivo dirigido por Benedita Pestana, com o qual praticamente partilha paredes e sintoniza programação], a Quéréla assume-se como uma plataforma que toma “o Feminismo Interseccional enquanto prática, metodologia e temática” — pode ler-se nos seus materiais de comunicação —, “articulando as pesquisas de Donna J. Haraway e Sara Ahmed sobre o conceito de «trouble» (querela) e a oralidade da palavra duplamente acentuada: Quéréla é também o que ela quer”.
Crítica — por David Silva Revés
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Fundado em 2014 e existindo, desde então, de forma independente e discreta no panorama artístico lisboeta — ainda que não de modo menos consequente —, O Armário é um projecto especial. Não só por ser conduzido pela mão, companhia e olhar atentos de Benedita Pestana — preocupada em fazer do seu espaço um verdadeiro lugar de encontros, comunidade e agitação de pensamentos —, mas igualmente pela particularidade no mote lançado a que artistas ali intervenham de forma totalmente livre e experimental face às singulares proposições. Como o próprio nome indica, a proposta curatorial d’O Armário caracteriza-se pela existência à priori dessa tipologia de objecto no interior do espaço expositivo, cuja presença, apesar da(s) forma(s) e modo(s) como tal possa acontecer, é circunstância indispensável em cada momento de apresentação
Entrevista — por Carolina Pelletier Fontes
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A primeira exposição, nas novas instalações do espaço Verão, em Lisboa, apresenta três obras da artista espanhola Esther Gatón. Tendo inaugurado em Dezembro estende-se até ao próximo dia 5 de Fevereiro de 2022. Sem seguir nenhuma linha curatorial — uma das características deste espaço nonprofit — as três peças produzidas para a exposição "Eu tinha poucos anos e já era rigorosamente anciã" são de carácter site-specific. Nesta conversa com Antonia Gaeta damos a conhecer o propósito desta iniciativa.
Ensaio — por Ana Salazar Herrera
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São treze, os impressionantes retratos que agarram a atenção do espectador na exposição "Just My Imagination (Running Away with Me)". Os retratados exigem veementemente que se veja a sua legitimidade intrínseca, que se ouçam as suas vozes, que o nosso imaginário coletivo se alargue. Quase todos olham para nós, e nenhum deles parece ter razão para sorrir. Dez dos retratos são autorretratos exploratórios realizados entre 2019 e 2021 por célebre fotógrafe e ativista Zanele Muholi (1972, África do Sul), e os restantes três, do artista Ayogu Kingsley Ifeanyichukwu (1994, Nigéria), são pinturas hiper-realistas a óleo e em tamanho real de figuras históricas negras.
Crítica — por José Marmeleira
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Exposição do artista brasileiro José Leonilson, falecido em 1993, vítima de SIDA e de Tomás Cunha Ferreira (1973), Pequenos Fogos, patente na Brotéria até 26 de Fevereiro, pode ser descrita assim: é um lugar em que as palavras e os desenhos, aparecem na condição de sinais, traços, marcas, quase vestígios. Como tal, conduzem-nos pelo espaço, ainda que sem nos ditarem quaisquer caminhos ou direções. Encenam uma ligação precária e silenciosa entre dois universos geográficos, artísticos e temporais, ligação que se observa, se tateia, se experimenta, se descobre a cada movimento no interior da arquitetura da galeria. Também se poderia, mais prosaicamente, falar de um encontro, representado nos objetos, que o visitante tem o privilégio de testemunhar.
Artigo — por José Marmeleira
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Há um mês que Maja Escher não ouve a chuva, o bater das gotas nas superfícies, o rumor da água sobre a terra. Nascida e criada no Alentejo Litoral, teme o silêncio que a seca traz à Terra enquanto recorda o que ainda lhe vão contando entre as freguesias de Corte Malhão e São Martinho das Amoreiras. Dizem que às vezes a água que se acumulava debaixo do chão era tanta que brotava à superfície, que jorrava. Mas que isso vai acontecendo menos, cada vez menos. A manhã de sábado já se declina, quando a artista nos acolhe no edifício dos antigos armazéns da Água Castello, na freguesia da Penha de França, de costas para o Tejo. “As pessoas do bairro chamavam-lhe a Fábrica das Águas. Mudei-me para cá em Julho do ano passado”, revela.
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