9 / 16

2019: O presente como uma continuidade histórica

MM.jpg
Sofia Lemos

 

Florestas milenares ardem no encerro de 2019. É o desfecho de uma década que se rendeu, revisionista, à urgência da crise climática, à poética de relação entre humanos e entidades não-humanas e à releitura do cânone artístico. 

A seguinte seleção reflete práticas artísticas e formatos curatoriais que procuraram discutir o presente como uma continuidade histórica feita de limites e delimitações, propondo, em simultâneo, futuros de cuidado e de construção ‘po-ética' conjunta.  

As retrospetivas das obras da artista chilena, Ceclia Vicuña e do artista conceptual islandês Hreinn Friðfinnsson, cujo trabalho plástico se tem vindo a desenvolver sob diversos media — desde imagem em movimento à produção têxtil e da poesia à performance — refletem uma preocupação constante com o entorno sociopolítico e ecológico. Diametralmente hemisféricas, ambas as histórias artísticas são marcadas por sincopações de resistências globais e locais, seja à ditadura militar chilena ou à crise de HIV/AIDS, respectivamente.

No programa da Chisenhale, em Londres, destaco a nova comissão de Ima-Abasi Okon, um estudo sobre a linguagem a partir de dispositivos de controlo climático.

Para finalizar, elejo a seleção de obras da coleção Pinault a partir de um poema de Etel Adnan, Luogo e Segni no Palazzo Grassi em Veneza, e a exposição And Berlin Will Always Need You, uma revisão da história institucional do museu Gropius Bau, em Berlim, a partir do uso das artes aplicadas por artistas sediados naquela cidade.

Em Portugal, escolho uma exposição dupla com obras recentes de Filipa César, no Museu Calouste Gulbenkian e no Hangar, Centro de Investigação Artística. A primeira, Crioulo Quântico, é uma colaboração com o artista Lorenzo Sandovale a segunda, OP-Film: Uma Arqueologia da Ótica, é uma colaboração entre César e o cineasta Louis Henderson. À revisão crítica do ser humano implícita nas obras da César, destacam-se as propostas de Mariana Caló e Francisco Queimadela no MAAT, e de Diogo Evangelista na Galeria Francisco Fino, que colocam em evidência a possibilidade de um futuro mais-que-humano. 9KG DE OXIGÉNIO com curadoria de Uma Certa Falta de Coerência (Mauro Cerqueira e André Sousa) na Galeria Municipal do Porto, e a seleção de obras da Coleção António Cachola, Ponto de Fuga/Vanishing Point, exploram de forma vertiginosa a condição contemporânea da produção artística nacional.

Exposições:

Nacional

— Filipa César: Crioulo Quântico. Museu Calouste Gulbenkian. Filipa César e Louis Henderson: OP-Film: Uma Arqueologia da Ótica. Hangar, Centro de Investigação Artística. + info

— Mariana Caló e Francisco Queimadela: Meia-Noite. MAAT-Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia. Curadoria Filipa Ramos. + info

— Diogo Evangelista. Organic Machinery. Galeria Francisco Fino. + info

 Ponto de Fuga / Vanishing Point. Obras da Coleção António Cachola. Galeria do Torreão Nascente da Cordoaria. Curadoria João Laia. + info

— 9Kg de OXIGÉNIO. Curadoria Uma Certa Falta de Coerência. Galeria Municipal do Porto. + info

Internacional

— Ima-Abasi Okon: Infinite Slippage: nonRepugnant Insolvencies T!-a!-r!-r!-y!-i!-n!-g! as Hand Claps of M’s Hard’Loved’Flesh [I’M irreducibly-undone because] —Quantum Leanage-Complex-Dub. Chisenhale, Londres, Reino Unido. + info

— Hreinn Friðfinnsson: To Catch a Fish with a Song: 1964–Today. Curadoria Krist Gruijthuijsen, Andrea Bellini. Kunstwerke, Berlim, Alemanha. + info

— Cecilia Vicuña: Cecilia Vicuña, a retrospective exhibition. Curadoria Miguel A. López.​​ Witte de With, Roterdão, Holanda. + info

— Luogo e Segni. Obras da Coleção Pinault. Curadoria Martin Bethenod, Mouna Mekouar. Palazzo Grassi. Punta della Dogana, Veneza. Itália. + info

— And Berlin Will Always Need You. Curadoria Natasha Ginwala e Julienne Lorz. Conceito Stephanie Rosenthal. Gropius Bau, Berlim, Alemanha. + info

 

Sofia Lemos é curadora, escritora e investigadora residente em Nottingham e Berlim. É curadora no Nottingham Contemporary e curadora associada da RIBOCA Bienal Internacional de Riga.

 

 

Imagem: Ima-Abasi Okon: Infinite Slippage: nonRepugnant Insolvencies T!-a!-r!-r!-y!-i!-n!-g! as Hand Claps of M’s Hard’Loved’Flesh [I’M irreducibly-undone because] —Quantum Leanage-Complex-Dub. Chisenhale, Londres.

 

Voltar ao topo