The Caretaker, or What Can A Body Do?
Uma conversa com William Dilworth
A existência não é um assunto individual. Os indivíduos não preexistem as suas interacções; pelo contrário, os indivíduos emergem através e como parte do seu entrelaçado intra-relacionamento. O que não quer dizer que a emergência aconteça de uma vez por todas, como um evento ou como um processo que ocorre de acordo com alguma medida externa do espaço e do tempo, mas sim que o tempo e o espaço, como matéria e significado, passam a existir, iterativamente reconfigurados através de cada intra-acção, tornando assim impossível a diferenciação em qualquer sentido absoluto entre criação e renovação, início e regresso, continuidade e descontinuidade, aqui e acolá, passado e futuro.
—Karen Barad, Meeting the Universe Halfway
Encontrei-me com William Dilworth (AKA Bill), o cuidador de Earth Room de Walter De Maria, no Soho em Nova Iorque, um dos inúmeros locais da constelação Dia Art Foundation, algumas semanas antes do fim da temporada que precede o seu período de encerramento de Verão que dura três meses.
Autoproclamado “Cuidador da Terra e do Tempo" — como se pode ler no seu cartão de visita — Dilworth desempenha as suas tarefas de cuidador dos 97 metros cúbicos de terra há mais de trinta e dois anos.
Excepcionalmente para esta entrevista, Dilworth abriu a porta do seu estúdio situado nas traseiras do Earth Room e abordou décadas de prática e pensamento artísticos que vão desde a série de desenhos CountMark — marcas de uma escrita automática feita com o intuito de contar o número diário de visitantes da instalação de Walter de Maria — até inscrições na parede e pinturas feitas com os seus pés.
Partindo da questão "O que pode um corpo?" de Espinoza, gostaria de reflectir sobre a primazia dos trabalhadores como agentes activos, afirmando primordialmente o seu poder e compreendendo as mudanças no modo de produção capitalista, principalmente enquanto resposta à luta de classes e, neste caso, colocando a imaginação no campo central para a transformação social.
Na demanda por uma justiça social, solidariedade e paridade económica como formas de colaboração no mundo contemporâneo, interpreto o caso de Dilworth como um exemplo de retaliação contra o sistema económico vigente, gerando novos espaços de insurgência, nos quais "já não somos concebidos como um objecto passivo de alienação, mas sim como o sujeito activo de recusa capaz de construir uma comunidade através do afastamento dos interesses da sociedade capitalista"[1] e, consequentemente, construindo uma relação finalmente humana.
William Dilworth (WMD): Já falámos de como consegui este trabalho?
Andreia Santana (AS): Essa era uma das primeiras perguntas! Como é que aqui chegaste?
WMD: Comecei a trabalhar para a Dia Art Foundation em 1979! Iniciei-me com a pequena função de varrer as escadas da cave uma vez por semana na Dream House[2]. Finalmente, acabei por me familiarizar bastante com o trabalho de La Monte Young e Marian Zazeela, e tornei-me a pessoa que lhes construía os objetos e fabricava algumas das suas obras de arte. Era curioso pensar que assim que chegamos a Nova Iorque estamos numa Dream House! Era quase como se a Dream House também fosse nossa. Tive sorte, mas chegou o dia em que soube que estava muito mais envolvido nas suas obras de arte do que me sentia confortável em estar. Acabei por não querer continuar a produzir arte para outras pessoas. Um dia estava com um amigo a olhar para uns canos aqui na rua e interpelei-o sobre este trabalho (Earth Room). Pouco tempo depois, abriu a vaga e ofereceram-me o lugar. Uma das razões pelas quais o aceitei foi devido a este espaço.
Queria uma posição em que pudesse desenvolver o meu trabalho sem ter de o promover, ao mesmo tempo que me pagavam um ordenado. Antigamente não vinham assim tantos visitantes à Earth Room e eu podia estar aqui atrás a trabalhar na minha arte durante horas, mas depois, com o passar do tempo, foi ficando movimentado.
AS: Tens visitantes que vêm regularmente à Earth Room para ver o teu trabalho?
WMD: Contei à minha filha que vinhas porque ela reparou que a porta do estúdio estava aberta. Ela sabe que isso é invulgar, porque o meu hábito durante a maior parte do meu tempo aqui foi manter esta condição discreta. Todos no Dia têm conhecimento, mas eu nunca quis dar um passo em frente. Não queria que se tornasse uma preocupação.
AS: Aprecio esta qualidade no teu trabalho de estar protegido de atenção permanente, exigências externas ou qualquer tipo de pressões. Estava a olhar para a intervenção que realizaste nas paredes do estúdio, escondida do público.
WMD: Vão renovar este espaço na próxima temporada e, eventualmente, esta obra de parede será destruída. Uma das razões da renovação é para poderem permanecer abertos durante todo o Verão.
AS: Como interpretas essa mudança?
WMD: Estou satisfeito por ter sido a pessoa que progrediu nesta encarnação original. Sempre senti que fechar durante três meses era saudável para todos. Principalmente para o Earth Room! Penso que se estiver aberto todo o ano, provavelmente aconteceria o mesmo que no Met. Antes costumavam ter um dia de folga mas agora abrem sete dias por semana. Parece que querem tirar o ar. Sinto uma sensação de desassossego que não me parece ser a melhor. Sempre pensei que ao ser dispensado nos Verões, poderia desprender-me de tudo.
AS: Se pensarmos no Earth Room enquanto instalação, é o que faz sentido. Estas paragens são cruciais para que a terra descanse — chamam-lhe pousio, penso eu.
WMD: E estes intervalos têm sido fulcrais para isso. Achei curioso o que disseste sobre trabalhar de uma forma que faz alusão à noção de se afastar quase propositadamente do público.
AS: Alguns artistas têm até reconhecimento público mas mantêm um certo tipo de trabalho escondido do exterior, como se fosse uma forma especial de o proteger. Assim, pode crescer de uma certa forma.
WMD: Tudo vem do mesmo lugar, mas ainda assim podem haver muitas diferenças visuais. Nunca fui obrigado a rotular-me de forma alguma porque não tenho de me apresentar publicamente e isso tem me permitido uma liberdade incrível.
AS: Podes descrever qual é a função do cuidador do Earth Room?
WMD: Quando consegui este trabalho, quem aqui estava saiu à pressa e, por isso, não houve qualquer transição. Cheguei ao local e encontrei um par de ancinhos. Um tinha um curto intervalo de tempo e o outro era um cultivador. Agarrei apenas o cultivador porque senti que era demasiado plano. O meu trabalho era chegar, fazer a manutenção da terra, regá-la e mantê-la com o mesmo aspecto do dia em que foi instalada.
O Dia nunca foi rígido na sua abordagem e até o próprio Walter De Maria era flexível em relação ao seu trabalho artístico. Pensei em dar-lhe alguma textura, achatando-a um pouco como um tapete, na esperança de a fazer parecer mais com terra. E enquanto ninguém protestou, pensei que estava bem. Walter acabou por aparecer — demorou oito anos a fazê-lo — e finalmente conhecemo-nos. Ele revelou ter uma espécie de bloqueio, apesar de viver na zona. O facto do Walter se sentir confortável com as coisas era a sua forma de concordar com elas. Por isso, a textura mudou, as luzes apagaram-se. Houve uma evolução no espaço onde o aprendiz tem de se apresentar e preservar. Assim, ao longo destes 32 anos, o cuidado do espaço evoluiu. Não é tanto uma questão de como fazê-lo, mas o que se descobre ser necessário para o manter relativamente inalterado. Temos permitido que revele a sua idade, mas não mudou quando o comparamos com o que se passa no exterior. Isto é o radical — quanto é que não mudou!
AS: Cada vestígio humano é apagado?
WMD: Sim e não. Não são visíveis. Quero dizer, as linhas estão lá e eu costumava desenhá-las contra a parede com a ajuda do ancinho. E descobri, enquanto continuava a fazê-lo, que estava a fazer essa linha com a minha mão. Esse é o traço humano que não seria identificado. Mas tens razão, rastros ou vestígios não deveriam ser identificáveis.
AS: Ao mesmo tempo, esta qualidade natural de vida e preservação fez-me pensar nos jardins zen japoneses. Sentes alguma relação com isso?
WMD: Penso que foi uma das coisas que me levou a este lugar. Percebi que podia estar num espaço onde não houvesse outro trabalhador, que podia tornar-me monge de uma forma, atender a esta terra de uma certa maneira. Consegui esse efeito. E é um efeito contínuo. Há o mesmo tipo de intimidade entre a terra e eu. Algo que pensava não poder ter numa cidade como Nova Iorque.
AS: Eu sinto isso! Entra-se no edifício, fecha-se a porta, e o nosso ritmo abranda imediatamente. E a terra ajuda a absorver os sons, é muito silencioso.
WMD: É conhecido por ser um dos lugares mais silenciosos da cidade.
AS: Penso que esta instalação é transcendental principalmente para quem actualmente se debruça sobre as preocupações ecológicas em arte contemporânea. Recentemente, vi uma exposição que demonstrava a maneira como os seres humanos percepcionam a natureza. Sente-se quase como se houvesse um complexo de aquário porque tudo se encontra enquadrado. Embora o Earth Room esteja contido pelas medidas do edifício, parece ultrapassar estes limites constantemente. Experiencio aqui uma relação mais profunda com a natureza do que tenho em qualquer outro parque da cidade. No sentido, em que há menos distrações, barulho ou actividades humanas. Há algo nesta obra que continua a ressurgir para enfrentar tais preocupações na arte contemporânea, num sentido de abraçar novas relações com a natureza.
WMD: Tendo em conta o contexto que estás a descrever, observo que à medida que a informação se move no mundo, esta natureza indefinida permanece aberta a essa mudança. Falaste de várias coisas. Uma, o impulso ecológico que está a tornar-se cada vez mais importante para todos nós como premissa futura. O outro é apenas poder reinterpretar ambos os casos por contexto e apenas escolher a interpretação. A validade existe porque Walter a deixou aberta a todos. Penso que, conceptualmente, essa abertura corresponde à transparência dos nossos corações. E se formos a ver, não está assim tão limitada. Temos a sensação de que ele trouxe o máximo de terra que pôde. Qualquer bocado mais teria rebentado com as janelas. A ideia era preencher o espaço e não tanto compor com a terra, mas apenas transportá-la para lá. É um tipo de resposta visceral que considero semelhante ao nosso instinto primordial de nos relacionarmos com a terra como algo fundamental e necessário.
AS: Estás na Earth Room desde 1989. Sentes que a tua relação para com a instalação evoluiu? Ou houve momentos em que o entendeste apenas como um trabalho?
WMD: Não, nunca me desagradou. Penso que muitas pessoas entram no mundo da arte e precisam de inventar uma obra de arte identificável, uma marca ou jeito de se comercializarem a si próprixs, para que possam dizer quem são. Este lugar permite-me uma identidade com a qual me sinto confortável. Em detrimento da arte, porque o meu trabalho acumula-se e acaba por não ir a lado nenhum. Mas sem qualquer prejuízo para mim. Apenas cresceu. E isso deve-se ao tempo que aqui estive, tenho agora 66 anos. É apenas a qualidade do tempo acumulado. Mas nunca pensei que fosse apenas um trabalho, sempre o tratei como um santuário pessoal.
AS: Existe uma correlação entre alguns dos valores ou a forma em que acreditas que arte se vai enquadrando com este trabalho, certo?
WMD: Tem sido uma incrível vantagem ter este espaço nesta espécie de osmose psicológica onde não se consegue negar a influência. Este trabalho de parede de que falas estava no meu plano original para cobrir todo este espaço, como a minha versão da Earth Room dentro da Earth Room.
AS: Quando é que sentiste que a Earth Room estava a contaminar a tua prática?
WMD: No momento em que aceitei o trabalho, soube que este espaço me permitiria viver da maneira que eu queria, e isso afecta a forma como se trabalha. Consegui a máxima liberdade porque não tinha de vender arte. Por isso, sabia que esta influência iria inundar a minha prática. Durante os primeiros dez anos, só fiz desenhos que apenas se deslocavam de uma parede para a outra. E poderia ter que ver com o facto de eu me relacionar tanto com a Earth Room que fiquei saturado pelas suas proporções. Encarei este espaço não tanto como um estúdio, mas como um lugar de alargamento do meu cérebro onde todas estas articulações apenas se deslocariam. E era como se fossem palavras, que se ligam de formas diferentes, por isso era uma maneira de deixar o espaço falar comigo como algo que eu podia ouvir.
AS: Mas por desenhos, estás a referir-te aqueles que fazes para contar os visitantes? Que intitulaste de CountMark?
WMD: Esses aconteceram mais tarde. Tudo começou com click, click, click, precisávamos de contar o número de visitantes para fins de angariação de fundos. Click, click, click depois de alguns anos, pareceu-me que precisava de encontrar uma maneira melhor. E foi assim que tudo começou. Pode ver-se que os primeiros livros-piloto são mais pequenos, porque nos primeiros tempos havia menos pessoas a visitar e, por isso, cabiam numa página mais pequena, mas depois ficou mais visitado e os livros tornaram-se maiores. Estas marcas de contagem são um mundo em si que retratam as histórias diárias — é uma ponte entre o que eu penso que é fazer arte e o que é a Earth Room.
AS: E quanto à forma como as marcas? Consegue ler-se diferentes intensidades de uma forma que se identificam os símbolos, certo?
WMD: Não estou a tentar fazer retratos, mas há uma marca que é disposta na página, como um mapa. Posso dizer-te aproximadamente a que horas corresponde essa marca. Posso dizer quantas pessoas estavam na sala apenas pelas marcas unidas, pelo que são legíveis. Mas não estou a tentar retratar ninguém apenas a tentar registar a sua presença.
AS: Tive a sensação de que estes desenhos transportavam uma ligação ao trabalho de Marian Zezeela. Contaste que também trabalhaste para ela e há um momento algures numa entrevista em que afirmas que gostas da sua prática artística. De alguma forma, gosto como estas marcas continuam a trazer de volta esse tempo.
WMD: Apercebeste-te disso mais claramente do que eu. Trabalhei para eles desde 1979 a 1986 e talvez estivesse a absorver tanto que nem vi a ligação.
AS: Penso que são diferentes, mas parece-me que existe uma pequena quantidade de memória que transporta algo que se estima e guarda de pessoas e lugares que exercem uma actividade de cuidar. Isto está muito presente no teu trabalho, que considero incrível. Outra coisa que gostaria de referir é um filme que vi algures no qual estás a pintar com os pés. Gostaria de perceber o quanto estas impressões ou pegadas se relacionam com o trabalho que desenvolves na Earth Room.
ADM: Todos nós temos os nossos hábitos de pensamento que implicam assuntos que não estão na minha cabeça, mas que, agora que sugeriste, me parecem tão óbvios. O facto é que passei muito tempo de pé no Earth Room, a caminhar e a mexer na terra, orientando-me a partir da obra de arte monumental, olhando para os meus pés e observando a terra.
AS: Parece-me que o teu trabalho é livre o suficiente para projectarmos um tipo de abertura induzida por um determinado eixo entre o cérebro e a mão.
WMD: Isto é absolutamente verdade. Penso que após dez anos em que fiz milhares de desenhos, esgotei o meu vocabulário visual mão-olho e foi a partir daí que decidi que era altura de começar a pintar. Estava à procura de um reset e de ganhar um controlo diferente. Chamei-lhe falta de controlo, ou algo muito menos ligado à minha intenção.
AS: Passas mais tempo com esta instalação do que o próprio Walter de Maria alguma vez passou. Portanto, se eu seguir este raciocínio, não só és apenas quem cuida da obra de arte, como também aquele detém algo — impossível de organizar por palavras — próximo à verdade da obra.
WMD: Concordo. Acho que até que alguém aqui esteja por 32 anos, não saberá o que eu sei.
AS: Também mantém esta qualidade monástica obtida através de uma relação zen. Por exemplo, a maneira como as pessoas transgridem o seu corpo em direcção ao material e como a materialidade carrega algum tipo de qualidade espiritual muito mais profunda. Esta sensibilidade é também um saber. É uma certa inteligência do corpo.
WMD: Penso que o fazer artístico é uma actividade física e a Earth Room é uma massa física que tenho a certeza estar a alimentar essas noções que mencionas.
AS: Interessa-me bastante o que disseste acerca do Walter de Maria e como manteve a sala como uma estrutura aberta, à qual volvemos e continuamos a dar sentido, acrescentando e existindo dentro dessa abertura.
WMD: Penso que muitas pessoas vêem a definição como uma forma de entendimento. Aprende-se uma definição e compreende-se, mas penso que ao que estás aludir é que as definições podem ser constrangedoras. Certamente, sinto-me mais à vontade com outros que não se definem.
AS: Como é a tua relação com uma instituição como a Dia Art Foundation? Como reage esta instituição ao desenvolvimento da tua própria prática artística dentro do horário de trabalho que te foi estipulado enquanto cuidador do Earth Room de Walter de Maria?
WMD: Sempre senti uma grande responsabilidade. Fui colocado numa posição em que era importante para mim manter as minhas actividade no Dia e ser apresentado da melhor maneira possível. É talvez por isso que nunca fui muito directo sobre toda a minha actividade pessoal, mas agora que chego ao fim do meu percurso aqui, encontro-me em reflexão. No início, não sabiam do assunto. Já passei por oito directores da Fundação e só quando eles estão prestes a terminar o mandato é que decido mostrar-lhe o estúdio.
AS: E a tua prática continua a viver de uma maneira que não está definida ou institucionalizada — mesmo dentro de uma instituição?
WMD: Se tivesse sido institucionalizado, então eu também teria sido e nunca o quis ser. Mas penso que eles gostam da ideia de ter este espaço, pelo menos sei que o Walter de Maria adorava. Não era um segredo, mas também não era da minha natureza promover nada. A maior conquista foi alcançar a liberdade.
AS: Disseste que também trabalhaste numa Torre do Relógio. Parece-me que o teu trabalho está sempre relacionado com o tempo, no modo como produz uma contra-reacção. De uma maneira geral, somos pagos à hora, por isso todos somos obrigados a medir valor com o tempo de trabalho, mas o teu trabalho luta contra esse tempo que nos é imposto e comprado. Consegues roubá-lo de volta!
WMD: Tens razão, muito desse tempo é o tempo de outra pessoa e eu tento torná-lo meu novamente.
AS: Também estou interessada em reflectir como o teu trabalho Earth Room é definido enquanto cuidador. Cuidado tornou-se uma palavra cada vez mais importante no mundo da arte, que penso que a pandemia intensificou.
Como foi a tua prática de cuidador afectada pela pandemia?
WMD: O maior objectivo de todos durante a pandemia foi o de se tornarem os cuidadores de si próprios. Provavelmente veremos isso reflectido nas futuras obras de arte. Durante a pandemia, estivemos durante seis meses nas montanhas Adirondacks e eu tive a sorte de ser atraído mais profundamente para a produção de arte do que em qualquer outra altura.
AS: O que pensei foi que estando na Earth Room beneficia-se diariamente deste ritmo lento, que a talvez maioria dos artistas só conseguiu experimentar durante os confinamentos.
WMD: Sim, se alguma coisa, o meu trabalho artístico estava a acelerar. Foi difícil ser deslocado mental e fisicamente pela pandemia, por isso estava a tentar manter-me concentrado e activo.
AS: Como vês o teu futuro depois de deixares a Earth Room? Estás interessado em transmitir o conhecimento e a experiência à próxima pessoa? Como vês acontecer esta transição?
WMD: Certificar-me-ei de partilhar todas as informações práticas que possuir. Mas gostaria de acreditar que quem vier depois trará a sua própria sensibilidade e deixará-se afectar pelo tempo aqui presente.
Transcrito e traduzido do Inglês por Andreia Santana
Agradecimentos: Bill Dilworth, Hugo Canoilas, João Enxuto & Erica Love
Nova Iorque, primavera 2021
Andreia Santana (Lisboa, 1991) vive e trabalha em Nova Iorque. Licenciada em Artes Plásticas na ESAD - Escola de Artes e Design de Caldas da Rainha, participou no Programa de Estudos Independentes da Maumaus e é atualmente bolseira do programa de Studio Art da CUNY, Nova Iorque. Tem participado em vários programas de residências artísticas, nomeadamente a Residency Unlimited (Nova Iorque) com bolsa da Fundação Calouste Gulbenkian e Gasworks - Triangle Network no Hangar (Lisboa). Foi vencedora do Prémio Novo Banco Revelação, nomeada para o Ducato Prize (Itália) e recipiente de bolsas incluindo a Fulbrigh - Fundação Carmona e Costa, Criatório - CMP, Amadeo Souza Cardoso, e Fundação Calouste Gulbenkian - Delegação de França. Expõe regularmente em Portugal e no estrangeiro, em instituições como o Museu de Arte Contemporânea de Serralves, Porto; Hangar, Lisboa; Generali Milano; Galeria Filomena Soares; MAAT; Galeria Municipal do Porto; Cordoaria Nacional; La Nave, Madrid; Chiado 8; Galeria da Boavista, Lisboa; MACE - Museu de Arte Contemporânea de Elvas; e galeria Monitor, Lisboa.
Notas:
[1] Berardi, Franco. The Soul at Work: From Alienation to Autonomy. 2009. Semiotext(e) pp.74
Imagens:
Earth Room. Dia Art Foundation. © JOHN CLIETT/DIA ART FOUNDATION.
Imagens do atelier © Andreia Santana.