Entrevista a Andreia Magalhães
Andreia Magalhães tem desenvolvido a sua atividade profissional nas áreas da gestão de coleções, programação e produção de exposições. É doutorada pela Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto, tendo desenvolvido parte do programa de doutoramento no Museu de Arte Moderna de Nova Iorque. É Professora Auxiliar Convidada da Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto. Em Portugal, trabalhou no Museu da Faculdade de Belas Artes, no Museu Nacional de Soares dos Reis e no Museu de Arte Contemporânea de Serralves. Fora do país trabalhou no Instituto Holandês para Media Art /Montevideo, o Museu Nacional Centro de Arte Reina Sofía, os Museus de Arte Moderna de Nova Iorque e de São Francisco e no Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo. Entre 2013 e 2016 coordenou o serviço de Museologia do Museu do Douro; desde 2017 dirige o Centro de Arte Oliva em São João da Madeira.
José Marmeleira (JM): O Centro de Arte Oliva acolhe e explora duas coleções de arte: a coleção Norlinda e José Lima e a coleção de Arte Bruta/Outsider — Treger/Saint Silvestre. Está situado no norte do país, em São João da Madeira. E, nesse sentido, poder-se-ia acrescentar que combate a macrocefalia cultural do país. Como descreveria, em traços largos, o Centro?
Andreia Magalhães (AM): Como sabe, [o Centro de Arte Oliva] é um projeto muito recente. Foi iniciado em 2013, ainda não fez 10 anos. E tem essa particularidade de, enquanto centro de arte, não estar situado nas duas maiores cidades do país. Uma das bases da sua estrutura e do seu projeto encontra-se ancorada nas duas grandes coleções de arte que mantém em depósito de longo prazo. As coleções ocupam uma boa parte quer do programa, quer de todo o trabalho que é desenvolvido. Apesar de terem focos de aquisição diferentes acabam por ter vários pontos de contacto. Foram ambas iniciadas nos anos 80 [do século XX] e possuem uma relevância semelhante. Mas, em simultâneo, têm uma identidade distinta. A coleção Norlinda e José Lima foi iniciada em Portugal pelo colecionador José Lima e resulta de um programa longo e contínuo de aquisições. É uma coleção que constitui um grande acervo de artistas portugueses e é bastante representativa da arte internacional, reunindo artistas mais e menos consagrados. Saliente-se que as coleções são particulares, não pertencem ao Centro de Arte Oliva, não pertencem à Câmara Municipal de São João da Madeira. Têm uma identidade muito vincada à personalidade e aos interesses dos colecionadores, que nunca são os mesmos critérios de aquisição de uma instituição pública.
JM: A coleção de Arte Bruta/Outsider — Treger/Saint Silvestre segue outras linhas, outra arte.
AM: Tem características muito específicas. O seu foco será mais circunscrito, mas tem possibilitado um trabalho que até agora não existia no país e que começa a captar cada vez mais a atenção não apenas da comunidade artística, mas da própria academia. A arte bruta ou a outsider art era um território bastante desconhecido em Portugal, em especial devido à falta de acesso às obras. O Centro de Arte Oliva tem a felicidade de poder trabalhar com duas coleções distintas e isso torna-o um lugar privilegiado para o desmantelamento de ideias estabelecidas e imutáveis. Gosto de dizer que trabalhamos no meio, numa zona cinzenta permitindo-nos trabalhar numa zona de cruzamentos. O facto de as duas coleções se encontrarem no mesmo local e de os visitantes terem acesso à sua diversidade permite-nos conciliar diferenças e distinções. No trabalho feito com as coleções incluem-se o estudo das obras e a colaboração com diversas instituições internacionais e nacionais, com a cedência de obras. Tem sido uma tendência crescente. Fazemos cada vez mais exposições fora do Centro que são inteiramente realizadas com as coleções. Produzimos cerca de cinco a seis exposições anuais e, muitas vezes, colaboramos na realização de seis ou sete exposições fora do Centro. Gerimos a circulação das obras e colaboramos ativamente na realização das exposições. E depois há a programação complementar que nasce na zona de cruzamento das coleções. Interessa-nos trabalhar os cruzamentos disciplinares, explorar a forma como as artes visuais se relacionam com o cinema ou o design. Lembro neste caso, [a exposição] R2/ Fabrico Suspenso: Itinerários de trabalho. Interessa-nos, a partir do encontro entre as duas coleções, construir uma programação original, coerente e autónoma.
JM: É fácil estabelecer esse diálogo, em termos de programação e receção, entre as duas coleções, sendo ambas constituídas por obras tão diferentes? Afinal a arte bruta tende a ser um pouco incompreendida, em especial no campo mais estrito da arte contemporânea.
AM: Não é fácil, mas tenho sentido uma maior abertura nesse diálogo. Repare, [eu] não tinha uma relação com a arte bruta. Considerava-a, em certo sentido, uma nota de rodapé na história da arte. A coleção [de Arte Bruta/Outsider — Treger/Saint Silvestre] inclui à volta de 500 autores. São muito nomes e de um período cronológico abrangente. Alguns [autores] nasceram em finais do século XIX, sendo que uma grande parte da coleção é representada por artistas que nasceram na primeira metade do século XX. Trata-se de uma grande diversidade com autores que me eram completamente desconhecidos. A outsider art ainda é considerada uma área de nicho e, muitas vezes, temos tendência a ter reservas acerca dos discursos que certos museus [sobre ela] produzem. Refiro-me aos museus exclusivamente dedicados a este tipo de arte, que exploram muito as biografias dos autores, mas nem sempre os parecem estudar com a devida profundidade. Essa é uma dificuldade que enfrentamos. Mas tenho notado nestes cinco anos uma diferença acentuada. Já começo a ver teses de doutoramento realizadas em Portugal sobre arte bruta. Já se verifica também um interesse, claro que ainda não muito generalizado, dos artistas por esta área. Penso que com o trabalho que temos vindo a desenvolver, [a arte bruta] vai deixando de ser, em Portugal, um assunto obscuro ou exótico. Também estou mais atenta ao que se vai fazendo nessa área. Há cada vez mais instituições que olham para as possibilidades destas aproximações. Lembro-me de a Bienal de Veneza de 2013 ter integrado uma série de artistas outsiders ou o trabalho da Lynne Cooke no Museu Reina Sofía em Madrid, que permitiu a realização de exposições individuais ou a sua curadoria da exposição [em 2018] Outliers and American Vanguard Art na National Gallery of Art. Ainda que sejam projetos curatoriais, académicos ou de investigação pontuais, começam a surgir com grande seriedade e qualidade. Penso que há, cada vez mais, uma integração deste tipo de artistas na história de arte. Na verdade, a própria história de arte está cheia de artistas autodidatas que acabaram reconhecidos. Por que razão o Henri Rousseau não é considerado um artista outsider, mas é o Henry Darger? É bastante enriquecedor podermos refletir sobre estas questões. Recentemente organizei a exposição Jaime: "vi uma cadela minha com lobos" sobre este artista português.
JM: Que tem obras na coleção.
AM: Do Jaime há dois desenhos na coleção. Conhecia a sua obra através do filme [Jaime, 1974] do António Reis [1927-1991] e pensei que era um bom projeto para uma exposição. Poder fazer essa exposição, tendo a possibilidade de a relacionar depois com o trabalho de alguns artistas que foram convidados para as residências artísticas e que selecionaram ou criaram obras que seriam apresentadas na exposição Ninguém. Só Eu. permitiu criar relações de transferência que complexificam e adensam todas estas questões. É um caminho que quero perseguir.
JM: Nesse âmbito, é importante o trabalho que tem vindo a ser realizado com as curadorias da Antonia Gaeta que vem do campo da arte contemporânea.
AM: A Antonia conhece muito bem a coleção de Arte Bruta/Outsider — Treger/Saint Silvestre. Isso faz com que as exposições tenham maior densidade e conhecimento. Os seus trabalhos de curadoria são sempre muito eruditos e conceptualizados, muito alicerçados na própria história de arte mais canónica. É uma curadora que estabelece sempre essas relações. É importante para nós que esses discursos e essas narrativas possam partir da coleção. Temos vindo a diversificar os projetos curatoriais. A exposição que estamos a trabalhar a partir da arte bruta vai ser um projeto de João Sousa Cardoso. Será outro olhar sobre estes objetos. Ele está muito interessado em trabalhar sobre as questões do corpo e vai ser, cenograficamente, uma exposição muito distinta. Interessa-nos [para estes projetos] que sejam pessoas com um olhar e um conhecimento mais abrangente, por exemplo, sobre as questões da antropologia, como é o caso do João.
JM: Trabalhar com a coleção do José Lima corresponderá a uma abordagem mais convencional.
AM: A coleção do José Lima é muito abrangente e é possível trabalhá-la, como aconteceu na exposição O Efeito do Observador [em 2021], a partir de um tema muito específico. É uma coleção que precisa de uma abordagem aprofundada, sendo que o Centro de Arte Oliva, como outras instituições de arte em Portugal, tem poucos recursos financeiros e humanos. Uma das necessidades que sinto é a da realização de trabalhos de maior investigação/reflexão. A coleção vai sendo estudada na medida em que as exposições se vão desenvolvendo, nos contactos que vamos estabelecendo com os artistas e curadores. É um processo longo e que precisa de tempo. Uma das ideias que está a ser pensada, em conjunto com os colecionadores, passa pela organização de exposições de maior duração, trabalhadas com mais tempo e maior antecipação que se possam desenvolver em ciclos de exposições mais coerentes.
Sinto a necessidade de ter um plano de três ou cinco anos para as exposições. É um trabalho tem que ser necessariamente feito. Por exemplo, pensar numa exposição permanente que se desenvolva ao longo de três anos, mas com vários temas. Além do trabalho que estamos a fazer no programa de exposições, estamos a tornar acessíveis digitalmente as próprias coleções. É um passo importante para que [as coleções] sejam conhecidas e possam ser estudadas. Damos apoio a várias dissertações de mestrado e teses de doutoramento. Portanto, o trabalho com as coleções está em permanente reflexão. O projeto [do Centro de Arte Oliva] faz nove anos e está na altura de se pensar no que a instituição quer e pode ser no futuro...
JM: Continuam a fazer-se aquisições, entretanto, para as duas coleções.
AM: Continuam sim, sempre. Têm um programa de aquisições contínuo. A coleção do José Lima encontra-se em depósito na Câmara Municipal de S. João da Madeira desde 2008. Julgo que este depósito, acessível ao público desde 2013, foi um grande motor de criação do Centro de Arte. Nesse ano, quando foi feito o contrato de depósito, a coleção Norlinda e José Lima tinha cerca de 900 obras, agora tem 1500. O mesmo se passa com a coleção Arte Bruta/Outsider — Treger/Saint Silvestre. Tinha cerca de 800 obras e agora são 1600. Quase que duplicaram. O aumento tão significativo gera, entre outras, dificuldades de espaço e preservação que temos de solucionar. Mas claro que é desejável que as coleções continuem a crescer.
JM: Podemos falar de linhas fundamentais que caracterizam ou descrevem as coleções?
AM: As coleções são muito diversas. O colecionador José Lima começou a sua coleção nos anos 80 e tem um programa de aquisições muito claro. Sabe quais são os artistas que quer ver representados, está sempre atento. Tem uma ideia da coleção como um todo. Identifica ausências, sejam de artistas internacionais ou nacionais, que procura preencher. Há, também, um grande acompanhamento dos artistas mais novos. Depois acho que os próprios colecionadores, ainda que de uma forma não declarada, começam a estar mais atentos a preocupações atuais como, por exemplo, as artistas mulheres. O que também se verifica muito na coleção de arte bruta. Adquirir hoje obras não é a mesma coisa que adquirir obras há 20 anos atrás, quando os sistemas de circulação eram outros e nota-se esse acompanhamento. Outro facto que pode ser considerado um ponto de união entre as duas coleções é que os dois colecionadores estão muito atentos e são conhecedores da atualidade artística. Visitam as exposições nas galerias comerciais e estão muito bem informados dos respetivos panoramas. No caso da coleção da arte bruta, esse orientação é feita, em particular, a nível internacional, sendo que existem cada vez mais galerias especializadas e feiras de arte que acompanham esse desenvolvimento.
JM: O Centro de Arte Oliva está situado em São João da Madeira. De que modo se articula com as outras instituições de arte do norte de Portugal?
AM: O Centro de Arte Oliva integra uma rede criada recentemente de 13 museus de arte contemporânea e arquitetura do norte. Desse rede fazem parte, por exemplo, o Centro Internacional das Artes José de Guimarães, a Casa da Arquitetura de Matosinhos, o Museu de Serralves, o Centro de Arte Contemporânea Graça Morais em Bragança. Neste momento, estamos ainda numa fase de apresentação da rede e do conhecimento dos projetos. A aproximação que permite vai ser muito importante para o trabalho futuro na divulgação e na circulação das coleções. Há também uma série de parcerias e colaborações. A Universidade Católica foi uma parceira muito importante na exposição Jaime: "vi uma cadela minha com lobos" e temos tidos outros projetos, numa relação que começou com a exposição do Apichatpong Weerasethakul, em 2018. Trabalhamos com o seu centro de conservação e restauro. Com a Faculdade de Belas-Artes da Universidade do Porto estamos a programar um seminário que vai decorrer no final do ano e, nesse âmbito, queríamos realizar uma exposição no respetivo pavilhão de exposições a partir das coleções do Centro de Arte.
JM: Que estratégia tem concebido o Centro de Arte Oliva para aproximar as coleções da cidade e dos públicos de São João da Madeira?
AM: O projeto educativo é estruturante. Não são apenas as exposições que angariam os públicos, é preciso persistir num trabalho de continuidade. As escolas obviamente são aí fundamentais. O projeto educativo começou por se concentrar muito na comunidade escolar de São João da Madeira que, sendo uma cidade pequena, acolhe muitas escolas. Temos tirado partido desse aspeto que é favorecido pela proximidade. Há uma série de projetos educativos em curso. Todos os anos, no início do ano escolar, a receção aos professores é realizada no Centro de Arte. E o projeto educativo mantém, a par das atividades habituais, visitas orientadas e oficinas artísticas realizadas mediante marcação. Temos vindo a desenvolver todos os anos projetos de longa duração com algumas escolas. Neste ano estamos a trabalhar com duas, uma de ensino básico e outra de secundário. Esta última, a Escola Serafim Leite tem ensino artístico. Trata-se de uma iniciativa com grande regularidade de dois encontros mensais, um no centro e outro na escola. Refiro também as visitas orientadas ao almoço, de curta duração e que se concentram apenas numa obra. A adesão dos professores a essas visitas tem sido crescente. Além destes projetos muito focados nas escolas, temos outros de carácter mais social, com uma Instituição Particular de Solidariedade Social que trabalha com jovens com famílias desfavorecidas. É um projeto apoiado pela Fundação Calouste Gulbenkian, de longa duração e dirigido a famílias monoparentais. Estamos, também, a desenvolver oficinas artísticas com regularidade com essas crianças, e desenvolvemos iniciativas com a Universidade Sénior. Para o público adulto e livre, realizamos as visitas orientadas todos os fins-de-semana, e atividades como conversas com curadores e artistas. No âmbito do encerramento da exposição O Efeito do Observador, no fim de Janeiro, organizámos uma conversa com a curadora, a artista Ângela Ferreira e João Sousa Cardoso que contou com a presença de 40 pessoas, apesar das limitações causadas pelo agravamento da pandemia nessa data. Temos sinais de, que se persistirmos, conseguiremos manter e desenvolver os públicos, o que é muito compensador. Um projeto muito importante e um dos meus principais objetivos, que se realizará neste ano, é a criação de uma biblioteca. Permitirá que o centro de arte não seja apenas um espaço onde se vão visitar exposições, mas onde também se pode estudar e ter outras formas de contacto com as obras e artistas.
JM: E a relação do Centro de Arte de Oliva com os públicos não nacionais, como a descreveria?
AM: Recebemos visitantes internacionais que conhecem o projeto. Muitos demonstram um interesse particular pela arte bruta. Viajam para conhecer a coleção Treger/Saint Silvestre. O Centro de Arte é bastante bem conhecido fora de Portugal. No contexto da exposição À procura de Jaime Fernandes, trabalhámos com várias instituições internacionais que nos cederam desenhos. Por outro lado, são cada vez mais os pedidos de cedência por parte de museus internacionais, sobretudo europeus, das duas coleções. Vamos fazer, ainda neste ano, uma grande exposição de arte bruta na Áustria, sendo que essa cedência mais pontual de obras continua a verificar-se. Criar uma rede internacional de parcerias também é fundamental para o crescimento do projeto.
JM: O Centro de Arte neste momento já organiza e desenvolve residências artísticas. Correspondem a um programa específico?
AM: Não existia propriamente um programa planeado de residências artísticas, mas o apoio da Direcção-Geral das Artes veio permitir que os projetos se tornassem mais ambiciosos, com o necessário financiamento dos artistas. A ideia de se criar uma residência artística coletiva a partir da exposição do Jaime Fernandes é um exemplo feliz, precisamente pela a componente de apoio à criação artística. É um caminho fundamental a manter e desenvolver para o futuro. As residências têm surgido no âmbito dos projetos de exposição e no âmbito das propostas de alguns artistas para desenvolverem as residências enquanto momentos de apresentação pública. Nesse sentido, vamos ter este ano uma exposição que resulta de uma residência de apoio à criação com o artista Sérgio Fernandes e que decorre da vontade de explorar a relação da pintura com a arquitectura e os espaços que são marcadamente industriais.
JM: Coloca a hipótese de o Centro de Arte Oliva construir a sua própria coleção?
AM: Gostava muito, mas é pouco provável que aconteça a curto prazo. Que coleção para o Centro de Arte Oliva? Com a qualidade das obras que temos em depósito, criar uma coleção do zero é muito complexo, trabalhoso e para o qual não temos orçamento. Há uma coleção que gostava de criar e para a qual estou a tentar conseguir apoio. Incluiría apenas projetos concebidos especialmente para o Centro. Seria um programa com uma chamada para candidaturas, mas, no início, realizar-se-iam convites diretos aos artistas para fazerem projetos site-specific ou intervenções num espaço. A existir, a coleção deveria ser a reunião desses projetos muito específicos.
JM: Para terminar e voltando à relação com as outras instituições, como interpreta a influência do Museu de Serralves no surgimento de outros espaços de arte, em particular no norte do país e incluindo o Centro de Arte Oliva? Podemos dizer que há um antes e depois de Serralves?
AM: Curiosamente, o Centro de Arte Oliva nasceu de um projeto de uma candidatura a fundos europeus e a Fundação de Serralves colaborou ativamente na preparação dessa candidatura. No passado, algumas exposições de Serralves foram apresentadas no Centro. Temos todo o interesse em colaborar com outras instituições, mas não numa lógica de recetor. Mas voltando à pergunta, a possibilidade de estarmos em contacto direto e permanente com as obras de artistas portugueses e internacionais foi, sem dúvida, criada por Serralves. Recordo a importância que teve uma exposição como a inaugural, a Circa 1968. Serralves foi uma das instituições que mais trabalhou na abertura de Portugal a um contexto artístico internacional e às grandes questões que atravessam a história da arte contemporânea. Por isso, todos nós somos já herdeiros desse grande legado que Serralves construiu. Tudo o que estamos a fazer agora, é possível porque um trabalho inédito de grande qualidade curatorial e artística foi feito. Podemos construir a partir daí. Mas o que será desejável é que, sendo Serralves uma instituição com a dimensão que tem, os centros de arte de escala média possam trabalhar outros níveis, como os espaços independentes. Fazemos parte de um sistema que deve ser diversificado, plural e em que cada um vai operando nas suas instâncias.
José Marmeleira é Mestre em Comunicação, Cultura e Tecnologias da Informação (ISCTE), é bolseiro da Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT) e doutorando no Programa Doutoral em Filosofia da Ciência, Tecnologia, Arte e Sociedade da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, no âmbito do qual prepara uma dissertação em torno do pensar que Hannah Arendt consagrou à arte e à cultura. Desenvolve, também, a actividade de jornalista e crítico cultural independente em várias publicações (Ípsilon, suplemento do jornal Público, Contemporânea
Centro de Arte Oliva. Vistas gerais das exposições R2/ Fabrico Suspenso: Itinerários de trabalho, Jaime: “vi uma cadela minha com lobos”, Apichatpong Weerasethakul: A Serenidade da Loucura, O Efeito do Observador e Ninguém. só Eu.
Imagem de capa: vista da exposição Ninguém. Só Eu.
Fotografias: Dinis Santos. Cortesia do Centro de Arte Oliva.