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Francisca Carvalho: Pantalons pour attirer le vent

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Cristina Robalo

Entrevista com Francisca Carvalho e Antonia Gaeta

Atrair, atirar e caçar são alguns verbos para ler, ou ver a exposição Pantalons pour attirer le vent de Francisca Carvalho no Pavilhão Branco, do Museu da Cidade, com curadoria de Antonia Gaeta. Iluminados pela luz laranja esverdeada do exterior, os desenhos e os guaches convocam o jardim, animam os elegantes pavões, numa troca, numa dança, com uma certa musicalidade, fresca, vibrante, sedutora e intensa: escutemos a cor.

 

Cristina Robalo (CR): A relação com a Francisca já vem de outrora e é por aí que gostava de começar. Como é que se encontraram e o que há no seu trabalho que te desperta o olhar?

Antonia Gaeta (AG): Vi uma exposição da Francisca na Culturgest do Porto, em 2016, onde apresentava desenho e fiquei fascinada por conhecer uma artista aparentemente desconhecida. Mais tarde, fui visitá-la no seu atelier, onde vi algumas referências e
interesses comuns, e convidei-a para mostrar trabalho no meu espaço, o Verão, em
2020. Posteriormente, voltámos a trabalhar juntas numa colectiva Ninguém. Só Eu (Centro de Arte Oliva, São João da Madeira, 2022), onde ela apresentou dois tecidos e seis desenhos. A Francisca mistura muita coisa, mas na verdade fala de padrões e os
padrões tanto podem ser no papel como no tecido. É uma artista que não tem pressa e
esta é uma característica da qual gosto imenso; ela interessa-se por uma infinidade de
coisas díspares que consegue digerir muito bem para depois criar uma linguagem própria: o uso dos materiais, o cuidado que tem com a junção de pigmentos, a dosagem, o tempo e a experiência, que não estão dissociados. E eu adoro materiais e adoro perceber como são feitas as coisas, havendo uma espécie de devoção naquilo que se está a fazer.

CR: Como é que as primeiras conversas, talvez ainda em modo preparatório,
ganharam um fio condutor?

AG: Falámos bastante sobre os tapetes Arazzi que eram usados não só em vários reinos, por exemplo, no Ducado de Mântua, como também por várias famílias nobres para criar ambientes e tornar mais aconchegantes os salões. E gostei da relação entre os padrões que a Francisca faz e os Arazzi, porque a qualidade de aconchego que ela proporciona com as suas obras parecia-me ser a mesma.

CR: Os desenhos expostos no Pavilhão Branco fazem um corte com os anteriores,
que eram feitos em tecido. Gostava que falasses do percurso realizado para chegar a
esta produção, que envolve não só um grupo de desenhos pequenos como também um
conjunto de grandes dimensões feito a guache.

Francisca Carvalho (FC): Estes trabalhos foram feitos a pensar nas características do espaço, que é muito bonito mas difícil para desenho e pintura. Sabia que a escala tinha de marcar o ritmo visual da exposição. Os guaches têm cerca de 2,15m de altura por
1,25m de largura e são sob o comprido, um rectângulo agudo e vertical, que tem a ver
com o gosto pelas pinturas japonesas. Ultimamente, tenho trabalhado muito em tecido
e tinturaria e quando se trabalha muito tempo com tintas, corantes e pigmentos naturais, a paleta é limitada, porque são as matizes das plantas, dos minerais e dos
processos químicos. Ora, trabalhar nessa limitação tem muito interesse, mas quando
saio desse processo e vou directa para os guaches é uma alegria: um azul que é azul directo. Seguindo o exemplo de Matisse — as cores que vibram mais são as não misturadas — joguei com isso: o guache sem mistura, com uma ou duas camadas no máximo e a cor misturada, menos vibrante. Procurei ritmar esses níveis.

CR: A luminosidade do espaço também vibra e faz vibrar o que está exposto.

FC: O Pavilhão Branco é um espaço amplo que me inspira a pintura mural. A sensação de pintar a guache é aquela que mais se aproxima do prazer de pintar nas paredes. O guache quando seca permanece poroso, não assenta completamente e a sensação de opacidade, o recorte que proporciona, dar a cor ou recebê-la, de uma maneira tão frontal, pareceu-me ser o caminho a fazer.

CR: E o guache é aveludado, sedutor e apetecível.

FC: Completamente. Daí também a relação com o tecido: a sensação táctil do aveludado do guache semelhante à sensação táctil dos tecidos.

CR: As cores aliadas ao reino vegetal, à fauna, ao corpo, à sexualidade e à repetição cruzam certamente uma investigação, ou uma procura que te acompanha.

FC: São muitos interesses misturados e mantidos ao mesmo tempo, mas há um que se destaca, por exemplo, as gravuras do Período Edo Japonês — chamadas pillow books —seguem uma erótica dos padrões a desconstruírem o corpo sem violência.

CR: Os padrões que se desmultiplicam, sobrepõem, nos guaches sobre papel, surgem de onde?

FC: De tecidos que fiz. Recentemente, entre Fevereiro a Abril, estive na aldeia industrial de Bagru, no Estado do Rajastão e em Ahmedabad, onde fiz três tecidos, cada um com cinco metros de comprimento e um de largura. Encomendei uns blocos de madeira a um crafstman, com motivos desenhados por mim, que imprimi nos tecidos, como se faz tradicionalmente. Alguns padrões que aparecem nos guaches grandes têm que ver com esses tecidos, nunca expostos.

CR: Fizeste várias residências na Índia?

FC: Não foram residências. Em 2018, quando fui para a Índia, depois de receber as bolsas da Fundação Oriente e da Gulbenkian, fiz um estágio numa fábrica de tinturaria têxtil, onde comecei a aprender.

CR: Há qualquer coisa de ofício na aprendizagem dos processos e das práticas no que respeita ao tratamento dos tecidos?

FC: Sim, é uma coisa de ofício que me extravasa. Mas o engraçado é que aprender a fazer as cores e as receitas lá é muito diferente de as fazer cá. As características da
água, o sol, a maneira como a luz incide, o tipo de panelas, a paleta, tudo é diferente e tudo se altera. A cor, o fazer dos tecidos está dependente das condições externas e é um exercício de paciência e de humildade, porque não controlo.

CR: Quanto tempo estiveste na fábrica?

FC: No primeiro ano, em 2018, estive cerca de seis meses; na fábrica sou capaz de ter estado três meses e meio e depois fui andando pela Índia. Na segunda vez, em 2019, estive dois meses, mais em Ahmedabad, onde conheci uma família de tingidores e de
pintores de kalamkari, pintura feita em tecido de algodão com tintas naturais. Essas tintas vêm de desperdícios, por exemplo, de sobras de ferro, de flores deixadas nos
templos, matérias altamente corantes. Os Mata ni Pachedi (família de Ahmedabad)
conhecem profundamente os processos de tinturaria. Quando aprendi com eles a fazer
tintas, experimentei outro modo de fazer diferente do da fábrica, porque o improviso
era maior e a escala menor, inclusive o modo como se abordava a composição. Tinha plena consciência que era uma estrangeira, estava numa cultura e num nicho em que
uma pessoa aprende a contar com a disponibilidade dos outros e com a sorte, sem isso
não há passagem de conhecimento.

CR: Retomando os desenhos no Pavilhão Branco. A maior parte deles tem uma escala grande que, através das cores vivas e da desmultiplicação de padrão, apodera-se dos desenhos mais pequenos. No entanto, ao contrário daquilo que o nosso olhar é conduzido a ver, os desenhos pequenos, a lápis de cor, não são engolidos; eles destacam-se e afirmam-se na sua discreta dimensão. O que é para ti a escala?

FC: A escala dos guaches grandes e a escala dos desenhos pequenos a lápis de cor é a mesma, o tamanho é que é diferente. Por exemplo, pode-se usar a escala do ombro em tamanhos pequenos e pode-se usar a escala do pulso para um tamanho gigante. A
escala é isso e é também o tipo de intensidade e atenção, ou seja, as chamadas forças do espírito que se activam no trabalho: a escala do espírito. Outra questão é que os
desenhos pequenos demoram tempo a fazer, ou seja, são feitos com diferentes velocidades, há uns que são mais rápidos, outros mais lentos e outros têm várias
velocidades no mesmo desenho, isso dá uma sensação de profundidade quando se olha para eles, puxa um bocadinho para o escultório, o modelado, o plano, com o que é notado e com o que é definido. Tudo isso constitui planos de profundidade no
desenho.

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Francisca Carvalho, Pantalons pour attirer le vent. Vistas das exposição no Pavilhão Branco, Galerias Municipais de Lisboa/EGEAC, 2023. Fotos: Bruno Lopes. Cortesia da artista e Galerias Municipais de Lisboa/EGEAC.

CR: Enquanto curadora, como é que se desenrolou o processo de escolha, de selecção e de montagem para este espaço?

AG: Sabia com que material ia trabalhar e a Francisca acertou na escala. E o Pavilhão Branco é uma questão de escala, mesmo que depois as pessoas fiquem atraídas pelos desenhos mais pequenos, mas se as pinturas maiores não estivessem lá os desenhos perdiam-se. Sabíamos que tínhamos poucas paredes e não queríamos preencher o espaço, porque as obras são cheias de detalhes e de informações, íamos entrar em competição com o jardim e as obras entre si também iriam competir. Então optámos por deixar espaços vazios e colocámos uns bancos para as pessoas se sentarem, olharem, terem tempo e fruir. Esta foi a premissa da exposição. Neste caso específico, a composição foi ditada pelas cores e pelas formas porque as obras fazem parte do mesmo núcleo, foram feitas em 2023 e têm todas o mesmo título: Pantalons pour attirer le vent. Também há subtítulos, referências e o fio condutor não é linear
mas existe.

CR: O título é extraordinário e aparenta algum humor. Na sua frescura diz qualquer coisa. De onde vem ele?

FC: O título “desceu-me”. Quando estava a fazer um desenho, da série Uncoated
Quotes
— são quarenta desenhos a lápis de cor, dos quais só mostrei onze —, comecei a desenhar uma espécie de trama que se foi espalhando pelo papel A4, assumindo, mais
ou menos, a forma de umas calças. E, na altura, estava a ler Alfred Gell e Gregory Bateson. Bem, Alfred Gell fala de “mazes” — amuletos labirínticos usados em várias comunidades espalhadas pelo mundo que servem para caçar espíritos, evil spirits, atraindo-os e enclausurando-os. A captura é própria do jogo do olhar: se seguirmos o labirinto, não sairemos de lá. Os “mazes” convertidos numa espécie de padrão remetem também para a ornamentação da Grécia, do Egipto, da Índia, trazendo uma ideia de repetição, própria do arabesco, que atrai a atenção, hipnotiza. Esses padrões usados na arquitectura e, mais tarde, na roupa exerciam, em algumas comunidades, uma espécie de poder causador, de atrair ou repelir. Isto, de um ponto de vista mais prático, está relacionado com a tinturaria na Índia. Por exemplo, o índigo repele os mosquitos, o amarelo atrai-os. Esta ideia de um artifício ser capaz de mexer na malha causal das coisas ...

Voltando ao título: a palavra "calças" atrai o vento, mas em português também remete para a palavra"calçar", pode ter esse duplo sentido que me puxa logo para o chão e não era essa a ideia. Mas pantalon faz o som de ‘dling-dlong’, o som do sino que tem que ver com balancear e esse balancear vai ao encontro do vento. Pantalon é quase uma onomatopeia e a palavra attirer é muito boa porque parece ‘atrair’, tem esse sentido de uma língua para a outra, soa a atirar em português: calças que atiram o vento mas na verdade atraem o vento. Então, esse movimento de sino ou de badalo da palavra pantalon, entre atirar e atrair, faz com que a frase Pantalons pour attirer le vent feche o sentido.

CR: Curiosamente o título nasce dos desenhos mais pequenos. Eles foram tomados em mãos de modo diferente?

FC: Uncoated Quotes quer dizer "citações descasacadas", como se as citações se mostrassem elas próprias. Estes desenhos foram sempre feitos no mesmo quarto, quase às escuras e ao fim do dia; na intimidade com catálogos e revistas à volta a criarem uma espécie de ambiente.

CR: Descobres os títulos para as exposições durante o processo de fazer, têm um significado, ou tens nomes para cada trabalho associados à obra final?

FC: São as três coisas ou a mistura delas. Não há uma regra propriamente. Há uns títulos que vêm de uma voz interna. Quando estou a desenhar há uma espécie de voz interna que não é inconsciente, não é completamente lúcida, é semiconsciente. É quase uma voz do transe que aparece quando se desenha, ela cai em palavras ou diz coisas e, por vezes, essas palavras não fazem logo sentido. Depois, também, entram outros elementos nessa voz, como letras de músicas pop ou poemas que sei de cor, e ela vai colando-se com pedaços da memória. Portanto, alguns títulos vêm daí, outros, como disse, descem. Quando estou a pensar num título, o que penso, normalmente não tem muito interesse, só interessa quando deixo de pensar: quando largo o osso. E vum, desce! Aí é sorte, mas é preciso chamá-la.

CR: Também tem de se estar atento para captar essas palavras, escutá-las.

FC: Exactamente, é um ouvido interno.

CR: Fazes vários desenhos ao mesmo tempo?

FC: Nem pensar! Não consigo. Quando começo um desenho tenho de o acabar; se não acabo, não avanço.

CR: Vês os desenhos como séries?

FC: Não. Vejo como famílias. Séries teriam um princípio de repetição e variação dentro de uma matriz. Uma família dá-se quando desenhos ou pinturas encontram afinidades mútuas, não por via sequencial, mas por ecoarem entre si. As cadeias causais não se tecem da mesma maneira.

CR: Alguns desenhos a guache remeteram-me imediatamente para trabalhos do Ruy Leitão.

FC: Há um desenho que é uma citação directa: Boîtes à chapeaux para Ruy Leitão. Foi feito a partir de um desenho do Ruy Leitão, a lápis de cor, que sugere uma caixa de chapéus. Retirei essa figura como se fosse um caracter, torcia-a e empilhei-a.

CR: É um presente ou talvez uma homenagem?

FC: Não distingo presente e homenagem. Se estivesse morta e me homenageassem, do lado de lá acharia que era um presente.

CR: Muito bom! Tens outros trabalhos que são presentes, por exemplo, para Gaëtan?

FC: Tinha uma relação de grande amizade e respeito pelo Gaëtan. Ele escreveu um texto belíssimo para a minha exposição Chordata, na Culturgest do Porto, e começou a escrever sem me querer conhecer. Foi ver a exposição várias vezes e só passado seis meses, ou mais, é que nos encontramos pela primeira vez. Demo-nos muito bem e a partir desse momento, de vez em quando, passei a ir a casa dele. Mostrou-me algumas traduções de poemas de Rimbaud; o Gaëtan era um excelente tradutor e não era só pelo facto de ser bilingue. Traduzir para mim está ao nível de complexidade de um computador quântico, não sei como é que é possível manter o sentido e o ritmo, simultaneamente, de uma língua para outra.

CR: Apesar de haver uma proximidade do corpo com o papel e com o tecido, durante o processo de fazer há uma diferença?

FC: Total, embora sejam afins, porque ambos são fibras vegetais. Este papel que usei
para os guaches grandes é um papel antiácido, feito de fibras de bambu, não muda de cor, não se pode usar máscaras, nem fitas. Há, de facto, uma afinidade matérica entre o papel e o tecido, mas a sensação da própria inscrição, o riscar, o desenhar, o pintar, é muito diferente.

CR: Poder-se-ia ligar o tecido mais a uma prática oficinal e o desenho a uma prática de ritual?

FC: Acho que são as duas oficinais e rituais. No caso do desenho, o lado ritual, como está tão ligado à tradição europeia perdeu-se, tem de ser reinventado, mas há os desenhos Tantra indianos, datados do século XVII, normalmente anónimos, que eram feitos com propósitos meditativos. Aí, há uma dimensão, não sei se de ritual, mas de prática. O ritual pressupõe que se está a falar de uma cadeia de gestos, imediatamente identificada, aceite, estabilizada e praticada por uma comunidade, onde todos se entendem, como se o símbolo estivesse fixo e vivo. Nós não vivemos num mundo em que os símbolos estejam estáveis, por isso é problemático falar de ritual. Agora, falar de práticas faz mais sentido porque elas são flutuantes, podem ir do colectivo ao individual e voltar.

CR: Fizeste uma licenciatura em Filosofia. Qual é ligação com a tua prática artística?

FC: Pois é uma óptima pergunta. Fiz o Curso de Filosofia porque sempre tive uma apetência pelo tipo de literatura que é a filosofia. E é uma grande ferramenta porque dá velocidade, condiciona e, logo a seguir, descondiciona. Quando estamos a lidar com pintura ou desenho não estamos a lidar com conceitos, mas com ideias que são pictóricas ou gráficas; o conceito é outra coisa, é um mundo com um sabor metálico.

CR: Terá a Filosofia trazido alguma coisa para o teu trabalho ou terá sido o contrário?

FC: O que aconteceu foi que trouxe o desenho e a pintura para a filosofia e não o contrário. A minha relação com os textos sempre foi visual, via formas, grelhas, arquitecturas e sistemas a funcionarem visualmente.

CR: E actualmente estás a fazer um doutoramento?

FC: Sim, sobre a materialidade da cor, atendendo ao caso do uso dos corantes e pigmentos naturais.

CR: Acho curioso o teu percurso em relação ao da Francisca, porque há uma mudança da teoria à prática, em que o amor pelos materiais é evidente. Começaste por estudar conservação, não foi?

AG: Sim, o meu curso é Conservazione dei Beni Culturali, na Universidade de Bolonha, mas não é propriamente prático. Aprendemos toda a teoria para restauro, conservação e a legislação; a minha especialização foi em História da Arte Contemporânea. A conservação não é só curar um objeto específico é, sobretudo, a conservação dentro de um tecido maior, que é o tecido cultural de uma cidade, de um país e de um grupo de pessoas que são cidadãos. Agora, com a formação na Fundação Ricardo do Espírito Santo adquiri aquilo que me faltava e juntei as duas coisas. Fiz marcenaria porque sempre fiquei frustrada com o mobiliário expositivo e não gostava. Quando dizia: “quero fazer isto”, respondiam-me: “não se pode fazer.” Nunca havia uma resposta que me satisfizesse e fui para a escola aprender, porque é a única maneira de saber como se fazem as coisas. Apanhei o gosto: uso os materiais que quero e demoro o tempo que quiser. E a madeira demora, tal como fazer uma exposição, pensar um texto e escrevê-lo. Então, na pressa do contemporâneo perdeu-se esta equação de criatividade e de tempo.

CR: Há afinidade entre curar, conservar e cuidar?

AG: Sim, há aquela coisa de curar, tomar conta, às vezes, um pouco cheesy, mas é aquilo que faço: trabalho com pessoas, com artistas e com as obras deles e quando gostamos, tomamos conta, à semelhança dos amigos. Há uma relação de respeito e de amizade que passa pelo carinho e quanto mais carinho, mais cuidamos.

CR: De que te interessa falar?

AG: Falo sempre do tempo lato sensu e da falta dele.

CR: Haverá um momento mais importante do que outro, ou que se sobrepõe, durante o processo de trabalho?

FC: É o fazer. O intervalo mágico. É uma espécie de suspensão circunscrita, porque tem princípio e fim, mas, ao mesmo tempo, não tem: quando se está lá é como se lá estivesse desde sempre. Tanto é circunscrito como contínuo, é um belo paradoxo. Há plena consciência de que começa e acaba e, no entanto, é um fluxo.

 

 

Francisca Carvalho

Antonia Gaeta

Galerias Municipais de Lisboa

 

Cristina Robalo vive e trabalha em Lisboa. Artista, doutorada em Arte Contemporânea pelo Colégio das Artes da Universidade de Coimbra
(2021-2011), mestre em Filosofia, na área de Estética pela Universidade Nova de Lisboa (2010-2008), frequentou o Plano de Estudos Completo em Desenho e o Curso Avançado de Artes Plásticas pelo Ar.Co, Lisboa (2000/1994). Em 2019 iniciou o projecto editorial, “Conversa em
torno do desenho com Cristina Robalo”, em parceria com a Sistema Solar/Documenta.  

 

A autora escreve segundo o antigo acordo ortográfico.

 

 

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Francisca Carvalho. Pantalons pour attirer le vent. Vistas das exposição no Pavilhão Branco, Galerias Municipais de Lisboa/EGEAC, 2023. Fotos: Bruno Lopes. Cortesia Galerias Municipais de Lisboa/EGEAC.

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