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BURACO

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Carolina Pelletier Fontes

Um espaço de liberdade artística

 

Como o próprio nome indica, para chegarmos ao Buraco descemos umas escadas que nos levam até ao domínio do subsolo. Pequeno e contido, é um espaço aberto a inúmeras narrativas. Com uma programação que tem vindo, desde 2022, a expor artistas em diálogo. Numa primeira localização, na Rua da Boavista, acolheu o trabalho de Luísa Cunha e Rui Castanho. Agora no número 137 da Calçada da Estrela, a sua morada permanente, o Buraco já deu a conhecer ao público o trabalho de António Neves Nobre e Daniela Ângelo, Francisca Aires Mateus e João Gil, e acolheu ainda uma exposição colectiva organizada pelo projecto Spirit Shop de Pedro Barateiro.

No passado mês de Fevereiro, Gil Heitor Cortesão e João Marçal, inauguraram Passageiros para Saturno. Patente até 25 de Março, dia em que se irá realizar a finissage, esta mostra expõe um conjunto de oito pinturas que nos transportam para um momento de “íntima partilha”, como refere Rui Gueifão na folha de sala.

Em conversa com o Buraco, foram evocados momentos importantes no contexto da história da arte contemporânea que, muito provavelmente, as gerações mais novas desconhecem. É importante salientar que o Buraco surge na continuidade de projectos como o Avenida 211, dos anos 2000. Para quem viveu de perto o panorama artístico desse período, com certeza recorda o “Avenida”, como foi apelidado, um espaço expositivo dinâmico, dedicado à criação, que marcou extraordinariamente a comunidade
artística. Contudo, não há praticamente documentação sobre as várias propostas que por lá passaram.

Por mesmo motivo, o Buraco desenvolve, neste momento, um projecto de arquivo sobre o Avenida 211 e toda a programação apresentada entre os anos 2006 e 2014. Destacam-se dentro desta rede mais de 70 artistas que contribuíram para a diversidade das práticas artísticas em circulação no Avenida 211. Outros projectos fundamentais foram desenvolvidos no contexto do Avenida 211, incluindo o Barber Shop, Sala Bebe, Kunsthalle Lissabon, Parkour e o Escritório, assim como uma série de concertos organizados pelo Filho Único.

Num futuro próximo, o Buraco conta ter o apoio da Fundação Carmona e Costa para implementar o referido arquivo. Pretende, igualmente, a colaboração de todos aqueles que por lá passaram, como participantes ou como espectadores. Apelamos, assim, a pedido do Buraco, a todos os que viveram o Avenida 211, que contribuam mediante imagens, vídeo, texto, entre outros, para a futura publicação de um livro que visa perpetuar a memória deste projecto.


Com uma programação fluída e orgânica, o Buraco é um espaço expositivo sem fins lucrativos de carácter multidisciplinar aberto a várias actividades. Um espaço de liberdade para os artistas exporem com total autonomia, sem hierarquias ou limites no domínio da linguagem visual. Define-se pela sua identidade crítica, carácter intergeracional e a consistência das suas propostas programáticas. É uma estrutura independente, embora aberta a colaborações várias e outros apoios. O sentido de comunidade impera, o Buraco é um espaço de convívio, troca de ideias e partilha criativa que sobrevive da boa vontade de quem dele usufrui, sem nunca esquecer o espírito extremamente generoso de quem está por detrás desta iniciativa.

BURACO pode ser visitado aos sábados das 16h às 19h, e por marcação.

 

Carolina Pelletier Fontes [Lisboa, 1995]. Concluiu, em 2016, a Licenciatura em Escultura pela Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa, na qual se especializou em práticas de conservação e restauro, o que mais tarde lhe permitiu estagiar no Museu Nacional de Arqueologia. Em 2019 realizadou a Pós-Graduação em Estudos de Arte Contemporânea e Curadoria na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Em 2020 concluiu o Mestrado em Curating and Collections na Chelsea College of Arts, em Londres. Vive e trabalha em Lisboa.

 

A autora escreve de acordo com a antiga ortografia

 

Nota da editora:

Estes artigos pretendem dar a conhecer os mais recentes espaços non-profit em
Lisboa, não estão ancorados num pensamento crítico, nem configuram o modelo de
recensões críticas da Contemporânea.

 

Open Call para a comunidade artística que operou no Avenida 211 — enviar documentação com o título “Arquivo Avenida” para o e-mail: buraco.info@gmail.com.


Passageiros para Saturno, vistas da exposição (detalhes) no Buraco. Imagens cortesia dos artistas e Buraco.

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