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Morphogenesis

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Markéta Stará Condeixa

A morfogénese é um processo biológico que desenvolve num organismo as suas características formais, determinando assim a sua evolução numa determinada forma ou fisionomia. Por conseguinte, pode ser vista como uma operação no desenvolvimento orgânico e um importante elemento dentro do processo evolutivo das espécies. Embora se trate de um processo que estimula o início de uma forma, pode ocorrer igualmente em organismos já desenvolvidos resultando na sua transformação, hibridização e/ou (como uma consequência) progressiva deterioração. Esta última leitura da morfogénese pode ser tomada como o ponto de partida para a exposição de abertura da Galeria Francisco Fino, cuja inauguração deu início à semana “agitada” da ARCO Lisboa, mas também e sobretudo para a fase inaugural de uma nova e há muito aguardada galeria comercial em Lisboa.

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Morphogenesis, exposição colectiva com curadoria de João Laia. Vistas de exposição Galeria Francisco Fino. © Francisco Nogueira. Cortesia Galeria Francisco Fino.

Se definirmos a morfogénese como determinante para a forma de um organismo, então o título da exposição adequa-se nesta fase cujo objectivo é o de estabelecer de forma clara o chamado ADN de uma nova galeria. E assim o fez. Apresentando-se como uma galeria jovem e dinâmica com um alcance internacional e dando início ao seu programa com uma exposição colectiva internacional e formalmente densa, comissariada pelo curador português a residir em Londres João Laia, Morphogenesis pode ser entendida como uma clara declaração do posicionamento da galeria, das suas intenções e também, esperemos, da sua permanência futura dentro do contexto local. Ao reunir trabalhos de oito artistas da galeria (Gabriel Abrantes, Vasco Araújo, José Pedro Cortes, Karlos Gil, Adrien Missika, Mariana Silva, Marta Soares, Tris-Vonna Michell) e justapô-los a obras de artistas na sua maioria internacionais pode ser lido como uma declaração semelhante, como também o pode ser a selecção das próprias obras e a arquitectura de exposição que reflectem um lado mais em voga da actual prática artística contemporânea.

Tal como o texto da exposição anuncia, Morphogenesis toma como principal objectivo a análise da nossa condição actual, um período crítico de mudança e crise dentro dos domínios social, económico, político, ambiental ou representacional. Mas em vez de desenvolver uma análise activa e comprometida, a exposição acaba por recorrer às matrizes da sua própria estética e à já mencionada arquitectura de exposição que a domina e que à primeira vista torna o seu suposto conteúdo de certo modo secundário. A este respeito, a arquitectura do espaço é um poderoso elemento: a dinâmica tri-partida inicial foi segmentada, com a ajuda de grandes chapas metálicas suspensas (de uma qualidade escultórica inegável), numa série de unidades mais pequenas que permitem que obras individuais coexistam com outras peças e também funcionem simultaneamente de forma autónoma. Independentemente da sua presença formal, a utilização destas divisões permite ao mesmo tempo, no entanto, que o jogo de transparências e sobreposições de conteúdo aconteça. Deste modo, o display suporta a formação de micro-narrativas e associações entre obras, dependendo da posição espacial do olhar, permitindo que a exposição se transforme continuamente através das suas características formais que estão em constante fluxo e movimento. Persiste, contudo, a dúvida sobre um efectivo compromisso político.

Os conceitos de transformação, hibridização e mudança reflectem-se de uma forma quase didática em muitos dos trabalhos expostos. Sublinhamos aqui vários elementos, o primeiro sendo os princípios mecânicos da transformação, como Second Spade #7 e #8 de Arnout Meijer e Saskia Noor van Imhoff ou uma máquina de vapor de acrílico (#+26.02) de Saskia Noor van Imhoff que transforma periodicamente água em sopros de vapor que são lançados no espaço. Aqui o processo de transformação ocupa um tempo e um espaço reais, incluindo o corpo do espectador. Um princípio semelhante, mas dentro do domínio visual, é explorado em Warp, Web and Weft (de 2014), um vídeo de Mariana Silva que aborda a questão da transformação e representação através do visual e do cognitivo, associada à leitura e percepção dessa realidade. Outros trabalhos manifestam, em vez de um processo, uma materialização estática dessa transformação, revelando uma alteridade característica à sua forma. Uma peça de lã tecida à mão de Caroline Achaintre (Om Nom Ore, 2015) ou uma pintura abstracta que retrata aglomerados de formas orgânicas de Gabriel Abrantes (Sem título, 2016) são apenas dois de muitos exemplos introduzidos na exposição.

À semelhança do display que é sugestivo de uma outra materialidade, também muitos dos trabalhos na exposição realçam a ideia de um futuro imaginado do qual o corpo humano, como sabemos, poderá ou não vir a fazer parte. Através deste prisma, muitas das obras aparecem realmente como organismos desenvolvidos numa fase de pós-transformação. Aqui o corpo ocupa um lugar estranho. A sua forma tornou-se obsoleta e para a exposição secundária. O processo de transformação resultou aparentemente num esquema de um futuro possível. É-nos apresentada uma exposição onde a análise da forma oferece uma narrativa especulativa desse futuro possível. A questão, no entanto, permanece: será este formalismo cuidado uma tentativa de representar o futuro ou apenas um display em voga?

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Morphogenesis, exposição colectiva com curadoria de João Laia. Vistas de exposição Galeria Francisco Fino. © Francisco Nogueira. Cortesia Galeria Francisco Fino.

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Morphogenesis, exposição colectiva com curadoria de João Laia. Vistas de exposição Galeria Francisco Fino. © Francisco Nogueira. Cortesia Galeria Francisco Fino.

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Morphogenesis, exposição colectiva com curadoria de João Laia. Vistas de exposição Galeria Francisco Fino. © Francisco Nogueira. Cortesia Galeria Francisco Fino.

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Morphogenesis, exposição colectiva com curadoria de João Laia. Vistas de exposição Galeria Francisco Fino. © Francisco Nogueira. Cortesia Galeria Francisco Fino.

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Morphogenesis, exposição colectiva com curadoria de João Laia. Vistas de exposição Galeria Francisco Fino. © Francisco Nogueira. Cortesia Galeria Francisco Fino.

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Morphogenesis, exposição colectiva com curadoria de João Laia. Vistas de exposição Galeria Francisco Fino. © Francisco Nogueira. Cortesia Galeria Francisco Fino.

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Morphogenesis, exposição colectiva com curadoria de João Laia. Vistas de exposição Galeria Francisco Fino. © Francisco Nogueira. Cortesia Galeria Francisco Fino.

 

Markéta Stará Condeixa

Curadora e crítica de arte, Markéta Stará Condeixa (1985) vive e trabalha entre Praga, na República Checa e Lisboa. É fundadora e curadora do projecto SYNTAX - um espaço independente sem fins lucrativos, em Lisboa, dedicado à apresentação e produção de práticas artísticas contemporâneas. Contribuiu com os seus textos para inúmeras publicaçções, como a Manifesta journal, Afterall ou SZUM magazine. Colabora regularmente com a Artforum, Flash Art CZ/SK e A2magazine.

Tradução do inglês por Gonçalo Gama Pinto

 

Galeria Francisco Fino

 

Original em inglês

Morphogenesis is a biological process, which causes an organism to develop its formal features, determining thus its transformation into a particular shape or form. As such morphogenesis can be seen as a procedure in organic development and a significant element within the evolution process of species. Although it is a process, which prompts the beginning of a form, it can also take place in already mature organisms, resulting in their transformation, hybridisation and/or (as a consequence of) their gradual deteriotion. The later reading of morphogenesis can be understood as the point of departure for the opening exhibition at Francisco Fino Gallery, the grand opening of which kick started a “buzzing” week of ARCO Lisboa, but also and most importantly, the inaugural phase of a new and long awaited commercial gallery in town.

If we define morphogenesis as a point, which determines the form of an organism, we can see the title of the exhibition as fitting in a phase, the goal of which, is to clearly establish the so called DNA of a new gallery. And so it has. Presenting itself as a young and a dynamic gallery with an international outreach, starting its operation with an internationally and formally dense group exhibition curated by Portuguese – London based curator Joao Laia, can be perceived as a clear statement of the galleries position, its intentions and hopefully also its future standing within the local gallery context. Bringing together works by all eight artists of the gallery (Gabriel Abrantes, Vasco Araújo, José Pedro Cortes, Karlos Gil, Adrien Missika, Mariana Silva, Marta Soares, Tris-Vonna Michell) and juxtaposing these works against the works of mostly international artists, can be read as a akin statement, as can be the selection of the actual works and the design of the exhibition, somewhat tapping into the fashionable side of contemporary art practice today.

Taking as its main goal the scrutiny of our current condition, defined as the exhibition text states, by a critical period of change and crisis within the domain of the social, economical, political, environmental or representational, rather than opening up a play of engaged scrutiny, the exhibition falls back on the earmarks of its own aesthetic and the above mentioned exhibition design, which dominates the show and at first hand renders the supposed content of the show somewhat secondary. As a powerful element in this respect can be seen the revised architecture of the space, which has from its initial three part dynamic been segmented with the help of large suspended metal plates (the sculptural quality of which is undeniable) into a series of smaller units, the function of which, permits individual works to co-exist with other pieces, while allowing for these works to also function on their own. Regardless of their formal presence, the use of such divisions at the same time however permits for the play of transparency and the layering of content in the show to emerge. As a result the display supports the formation of micro-narratives and connections between works depending on the spatial position of the eye, thus enabling for the exhibition to continuously transform itself though it’s shifting formal features, which are in continuous motion and flux. The question of design with a tag charged with supposed political engagement however remains.

The notions of transformation, hybridisation and change is mirrored in an almost instructive manner in many of the selected works. Emphasis here is placed on several elements, the first of which would be the mechanical principles of transformation, such as Second Spade #7 and #8 by Arnout Meijer and Saskia Noor van Imhoff or a plexy glass vapour machine (#+26.02) by Saskia Noor van Imhoff periodically transforming water into puffs of vapour that are released into the space. Here the process of transformation occupies real time and space, the body of the viewer including. A similar principle, yet within the domain of the visual is explored in Warp, Web and Weft, 2014 a video work by Mariana Silva addressing however the subject of transformation and representation through the visual and the cognitive, connected to the reading and perception of such a reality. Other works than rather than a process manifest a static materialisation of such a transformation revealing an otherness characteristic to its form. A hand tufted wool piece by Caroline Achaintre (Om Nom Ore, 2015) or an abstract painting depicting organic-looking clusters of paint by Gabriel Abrantes (Untitled, 2016) are only two from the many examples introduced in the exhibition.

Similarly to the display that is suggestive of another materiality, so are many of the works of the exhibition emphasising the idea of an imagined future the human body, as we know it might, but also might not be a part of. Through this prism, many of the works really appear as mature organisms in a post-transformation phase. Here the body occupies a strange position. Its design has been rendered obsolete and for the show has become secondary. The transformation process has supposedly resulted in a design of a possible future. We are presented with an exhibition where the analyses of form presents a speculative narrative of such a possible future. The question however remains, is such a designed formalism an attempt to represent the future or fashionable display?

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Morphogenesis, exposição colectiva com curadoria de João Laia. Vistas de exposição Galeria Francisco Fino. © Francisco Nogueira. Cortesia Galeria Francisco Fino.

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Morphogenesis, exposição colectiva com curadoria de João Laia. Vistas de exposição Galeria Francisco Fino. © Francisco Nogueira. Cortesia Galeria Francisco Fino.

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Morphogenesis, exposição colectiva com curadoria de João Laia. Vistas de exposição Galeria Francisco Fino. © Francisco Nogueira. Cortesia Galeria Francisco Fino.

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Morphogenesis, exposição colectiva com curadoria de João Laia. Vistas de exposição Galeria Francisco Fino. © Francisco Nogueira. Cortesia Galeria Francisco Fino.

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Morphogenesis, exposição colectiva com curadoria de João Laia. Vistas de exposição Galeria Francisco Fino. © Francisco Nogueira. Cortesia Galeria Francisco Fino.

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Morphogenesis, exposição colectiva com curadoria de João Laia. Vistas de exposição Galeria Francisco Fino. © Francisco Nogueira. Cortesia Galeria Francisco Fino.

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Morphogenesis, exposição colectiva com curadoria de João Laia. Vistas de exposição Galeria Francisco Fino. © Francisco Nogueira. Cortesia Galeria Francisco Fino.

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