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10 anos de Appleton Square

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Jeanine Cohen, Slipped Between [12 Dezembro - 15 Janeiro, 2014]. Foto: Marco Pires. Cortesia de Appleton Square.

David Silva Revés

Este é um ano especial para a Appleton Square: completa uma década de existência. Dez anos de constante actividade e permanente consolidação de uma identidade formuladora da sua presença no mundo da arte portuguesa. Às devidas comemorações deve juntar-se um olhar avaliativo da forma como uma instituição (chamemos-lhe assim) que foge às tradicionais regras do mercado expositivo se consegue aguentar (e a palavra é mesmo esta - aguentar) numa conjuntura que parece impor maiores dificuldades ou barreiras operativas do que facilidades na programação e orientação de um espaço cultural. Não sendo uma galeria, a Appleton Square foge a uma categorização ontologicamente fechada, inserindo-se num território dito "alternativo" e trabalhando num plano interdisciplinar e multiforme que a transforma num palco para a criação contemporânea nas suas variadas vertentes e formas de actuação.

A Appleton Square é um lugar particular, e isso nota-se. Nota-se pela elevada qualidade das suas exposições, feitas de uma vontade entusiasta e de um descomprometimento em relação aos padrões estabelecidos - uma liberdade que passa para os artistas. Nota-se pelas actividades que desenvolve paralelamente - cursos, conversas, concertos, performances, projectos alternativos - feitas de uma inquietude enérgica e desafiante que traz uma dinâmica viva a toda a estrutura. E nota-se, principalmente, pela atitude apaixonada, contagiante e profundamente comprometida de Vera Appleton, a sua fundadora, que todos os dias procura transcender os constrangimentos do meio artístico, abrir novas possibilidades e desenhar novos caminhos que levam a Appleton Square a afirmar-se continuamente como um dos mais estimulantes locais expositivos de Lisboa e do país. Um verdadeiro lugar da arte - para a arte - criado sob uma visão humanista de cultura, desvinculada de formalidades acessórias e preocupada na criação de terrenos comuns, sinergias desencadeadoras de novas potencialidades. É aí que está a sua força e diferença - um estar com as coisas, um estar nas coisas - em todos os projectos que acolhe e encara com um entusiasmo quase infantil, próprio das primeiras e mais valiosas descobertas. Isso é motivador e constrói afinidades. Uma disponibilidade que se sente. Uma disponibilidade na qual se trabalha.

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Pedro Cabrita Reis, Unveiled Revealed [18 Novembro a 23 Dezembro, 2010]. Foto: Rui Luiz. Cortesia de Appleton Square.

Não acompanhei este projecto do início. A minha relação com ele é mais recente - sensivelmente de há dois anos para cá - e parte, principalmente, das relações de amizade que ali encontro. Do carinho, atenção e motivação mas, sobretudo, aprendizagem, tão importantes para mim nesta aproximação a "qualquer coisa" que procuro iniciar no mundo da arte. Seria, pois, injusto não falar na Leonor, o braço direito e o braço esquerdo da Vera. A incansável, hiperactiva e sempre pronta Leonor, que se multiplica em tantas, tantas outras.

A minha experiência não seria aqui trazida a não ser pelo facto de revelar uma forma de estar que transversalmente encontro na Appleton Square e que, certamente, fará com que estes últimos dez anos se redobrem noutros dez (e outros tantos, espero). Porque falo agora do futuro, será sobre o futuro da Appleton Square que avanço neste texto e sobre a forma como ela própria avança sob novas formas de se reinventar. Ou melhor, de se redifinir e prolongar em novas intenções.

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Davvid Barro e Vera Appleton Foto: Marco Pires. Cortesia de Appleton Square.

timing não poderia ser mais perfeito (é a Vera que o diz): 2017 é também o ano em que a Appleton Square dá início à sua parceria com a galega DIDAC - DARDO Instituto do Deseño e das Artes Contemporáneas. Recentemente inaugurado, este organismo de carácter fundacional, apesar de fixar a sua sede em Santiago de Compostela e tomá-la como palco-primeiro para os seus projectos expositivos, perspectiva-se como uma instituição satélite, não se circunscrevendo a um espaço físico específico, capaz de orbitar em redor de outras instituições e definir parcerias estratégicas com o objectivo de dar visibilidade à arte contemporânea - uma rede de actuação pela união de esforços conjuntos. Conhecendo David Barro, um dos seus directores, rapidamente encontramos uma vontade e empenho, formados de um gosto profundo e desinteressado pelo artístico, os mesmos que encontramos na Vera Appleton, fazendo desta parceria uma junção lógica de vontades. São instituições quase irmãs, similares na sua dinâmica organizativa e na forma de actuação e predisposição à criação de projectos inovadores, libertos dos constrangimentos impostos pelo mercado da arte ou pelas formalidades e entraves burocráticos que uma instituição tradicional necessariamente enfrenta. Vivem num espaço de liberdade e imaginação que espelham de forma natural nas relações que estabelecem.

Numa época em que a sobrevivência de locais dedicados à cultura e pensamento crítico parece depender da persistência daqueles que a eles se dedicam diariamente pela força de um fazer contínuo e resistente, ver surgir novos dispositivos para a sua apresentação e exploração reforça a crença na sua continuidade e resiliência com a perfeita e lúcida consciência de que, tal como a Appleton Square já o afirma à entrada do seu espaço: "If you want to go fast go alone. If you want to go far go together."

 

David Silva Revés

Licenciado em Jornalismo pela Escola Superior de Comunicação de Lisboa. Frequentou os cursos de Estética, História da Arte Contemporânea e Neovanguardas. Finalizou o mestrado de Estudos Artísticos, vertente Crítica e Teoria da Arte, na Faculdade de Belas-Artes da Universidade do Porto. Trabalha entre Lisboa e Porto.

a autor escreve de acordo com a antiga ortografia

 

Appleton Square

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Edgar Pires, Restless Until It Becomes Gold [17 Março - 6 Abril, 2017] Foto: Bruno Lopes. Cortesia de Appleton Square.

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Pedro Calapez, O burel da cortina antepara o céu opaco [11 Abri - 10 Maio, 2014. Foto: Pedro Calapez. Cortesia de Appleton Square.

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Francisco Tropa, CINEMA [19 Maio - 16 Junho, 2016]. Foto: Teresa Santos. Cortesia de Appleton Square.

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Adelina Lopes, 254 Objectos [25 Fevereiro a 27 Março, 2010]. Foto:  Marco Pires. Cortesia de Appleton Square.

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Miguel Vieira Baptista, Drawer [9 Julho a 11 Setembro, 2010]. Foto:  Marco Pires. Cortesia de Appleton Square.

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Rui Toscano, Empire [13 Dezembro - 17 Janeiro, 2014]. Foto: TMarco Pires. Cortesia de Appleton Square.

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João Queiroz, Encáusticas [12 Novembro - 10 Dezembro, 2015].Foto: Marco Pires. Cortesia de Appleton Square.

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José Loureiro, RIVAIS [3 - 31 Março, 2016].Foto: Marco Pires. Cortesia de Appleton Square.

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