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WINDFERREIRA (Alexandra Ferreira & Bettina Wind)

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Claudia da Lança, Ekaterina Smirnova, Emna Lakhoua, Tzenni Chatzipanou e Alexandra Ferreira & Bettina Wind

WITHDRAWAL (2011-em curso) 

A dupla artística Windferreira convida-nos a seguir o percurso de Withdrawal (2011-em curso), um projeto que (re)contextualiza um objeto do quotidiano - um cheque bancário - em várias dimensões. O ponto de partida de Withdrawal foi uma residência artística em Dallas, durante a qual a dupla se deparou com problemas económicos e de comunicação que as obrigaram a trabalhar em condições precárias. As artistas viram-se com um cheque nas mãos sem saber o que fazer com ele. E assim começa a história da viagem do cheque. O primeiro ato de Withdrawal ocorre em trânsito - o cheque viaja de Dallas para o Palais de Tokyo, em Paris, onde foi mostrado em forma de instalação com um breve texto de parede que desvendou – com ironia e sentido de humor - questões de valor, de especulação e de exploração na produção artística. Com uma metodologia reminiscente dos famosos “ready-mades” de Duchamp, as artistas extraíram um objeto comum do dia-a-dia das suas condições usuais e transferiram-no para um novo contexto, num processo que lhe concede uma nova vida de significados. Nesta transferência, o cheque deixa de servir a sua função inicial, do domínio económico e passa a existir no sistema da arte, para fruição e reflexão do público. Se por um lado, este ato coloca o cheque num novo quadro simbólico, por outro lado, posiciona o cheque enquanto objeto com um potencial subversivo. Seguindo a linha de pensamento de Joseph Beuys, na relação crítica que identifica entre arte e capital, o ato de remoção de Windferreira, da instituição económica (banco) para a instituição cultural (museu) coloca o capital económico no mesmo domínio do capital cultural.

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Para esta edição especial da Revista Contemporânea, sob o título Artivism=Capital, Withdrawal propõe ainda outra transferência, abrangendo uma nova dimensão virtual da nossa (não tão distante) economia futura. Desta vez, a transformação ocorre do domínio físico, de uma instalação para o domínio digital de um conjunto de .jpgs que podem ser visualizados online. Nesta versão, Withdrawal estrutura-se em torno de uma série de imagens montadas como um puzzle que convida os leitores a entendê-lo de várias maneiras. Numa narrativa não linear mas de leitura acessível, convida-nos a iniciarmos o nosso próprio percurso mental. Com este convite as artistas definem, por um lado, o espetador enquanto artista ou designer consciente e responsável por construir (novas) imagens da realidade com um conjunto próprio de significados. Por outro lado, questionam as maneiras através das quais a produção de algoritmos globalmente acessíveis implica novas formas de poder e as suas implicações nas decisões de cada um de nós.

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À medida que o percurso continua, e com cada nova forma que as artistas adicionam ao arquivo de Withdrawal, a experiência do espectador ganha diferentes dimensões. Nesta forma digital, as artistas justapõem o virtual com o real, criando um discurso entre vários tipos de capitais culturais e económicos. Baseando-se nos pensamentos de Franco Berardi sobre o poder enquanto algo que vive no domínio virtual do ciberespaço e não no domínio físico do banco, Alexandra Ferreira e Bettina Wind refletem sobre o uso do ciberactivismo na arte contemporânea, como uma eficaz ferramenta de transformação e como forma de ativismo. As atitudes ativistas sociais e económicas refletem códigos semelhantes à reflexão crítica sobre as relações de poder no sistema das artes questionando quem é o proprietário (intelectual e material), quem lucra e quem tem acesso à arte no mundo virtual. E é precisamente a partir destas questões que Withdrawal incita a uma percepção crítica de um símbolo económico específico (um cheque) dentro do mundo virtual.

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A progressão temporal e espacial de Withdrawal e a sua re-imaginação desde 2011 desenha-o como um projeto vivo que tem o potencial de ser (re)conceptualizado e (re)contextualizado em vários âmbitos e sistemas. Enquanto objeto em construção contínua, evoca diversas narrativas que se manifestam numa série de experiências que visam perceber as condições de trabalho no domínio artístico, mas também noutros sistemas, como o social, o económico e o político.

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Nesta versão digital de Withdrawal, a dupla artística confronta o espectador com uma montagem de imagens e textos que funcionam quase como um storyboard de um filme - cada uma contando uma micro-história numa forma visual ambígua e distante. Seguimos as artistas na sua viagem teatral e experimental através das imagens que passam diante de nossos olhos, como personagens numa tela de cinema, assumindo papéis diferentes. Vista desta forma, a metodologia das artistas pode ser considerada Brechtiana ou, nas próprias palavras das mesmas, como uma "coreografia tipo Buster-Keaton": a história oscila entre uma comédia absurda e um drama fascinante. Numa das imagens, os espectadores são convidados a seguir a trajetória de um cheque bancário à medida que este paira no ar ao som do “Flight of the Bumble Bee” de Rimsky-Korsakov, ou são deixados a refletir sobre a condição dos artistas como construtores numa cadeia de produção, na qual são confrontados com questões de exploração artística.

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Alexandra Ferreira e Bettina Wind são duas artistas que falam a sua verdade a uma única voz, tão dinâmica quanto cortante. A obra das artistas é um ato de protesto repleto de paradoxos e sutilezas. A natureza adaptativa do seu corpo trabalho permite múltiplas transferências entre meios e conceitos. Mas o aspeto mais interessante do trabalho Alexandra Ferreira e Bettina Wind, é, provavelmente, o espaço que cria para a interação. É neste espaço - onde somos induzidos a interagir enquanto questionamos certezas que damos por garantidas - que a produção do seu trabalho atinge o potencial máximo. Muito mais do que imagens, oferecem-nos uma multiplicidade de perspetivas do que a(s) realidade(s) pode(m) ser.

Claudia da Lança, Ekaterina Smirnova, Emna Lakhoua, Tzenni Chatzipanou

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WINDFERREIRA (Alexandra Ferreira & Bettina Wind)

WITHDRAWAL (2011- Present) 

The artistic duo Alexandra Ferreira and Bettina Wind invites us to trace the journey of Withdrawal (2011-ongoing), a project that follows the transferral of a simple object – a bank cheque – in various dimensions. The starting point is an artistic residency in Dallas during which the artistic duo encountered a series of economic and communication problems that forced them to work under precarious conditions. The artists found themselves left with the check in their hands not knowing what to do with it. And so, the journey begins. The first act of Withdrawal takes place in transit - the check travels from Dallas to the Palais de Tokyo in Paris, where it would be exhibited as an installation with a short wall text raising, in ironical and playful ways, the questions of value, speculation and exploitation in the field of art production.  In its methodology it is implicative of Duchamp’s famous ready-mades: the artists retrieved an ordinary and simple daily life object – a bank cheque – from its usual conditions and transferred it to a new context where it gains a new life. It can no longer serve its initial purpose, it's withdrawn from the economic domain and placed in the aesthetic realm to be contemplated by the audience. While this act puts the cheque in a new symbolic frame, it also positions the cheque as an object that has a subversive potential. Remindful of Joseph Beuys’ critical viewpoint towards the relationship between art and capital, Ferreira+Wind’s act of withdrawal from the economic institution (bank) to the cultural institution (museum) places economic capital in the sphere of cultural capital.   

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For this special edition of Contemporânea, under the title Artivism=Capital, Withdrawal proposes yet another transferral, embracing the new virtual dimension of our (not so distant) future economy. This time the conversion occurs from the physical realm of an installation to the digital realm of a .jpg to be viewed online. This work is structured around a series of images assembled as a puzzle that invites the readers to navigate it in various ways. This structure produces a captivating story line that anyone can follow, provoking each reader to start his/her own mental journey. In such an engaged invitation the artists are, on one hand, acknowledging the viewer as a conscious artist or designer who is responsible for constructing (new) images of reality and its set of meanings and, on the other hand, questioning the ways in which the production of algorithms for mass accessibility implies new notions of power and thus demands new active responses.   

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As the journey continues, and with each new piece of artwork that the artists add to the archive of Withdrawal, the viewer´s experience profits from different dimensions while the artists juxtapose the virtual with the actual, creating a discourse between various types of cultural and economic capitals. By drawing on Franco Berardi's thoughts regarding power being in the virtual domain of cyberspace and not in the physical realm of the bank, Alexandra Ferreira and Bettina Wind reflect on contemporary art's use of cyberactivism as an effective transforming tool and a form of activism. The perception of a social and economic activist attitude through codes brings about a similar critique of power relations in the virtual which have been made in the sphere of art, questioning who owns, who profits and who has access to it. Withdrawal offers a contemplation on a specific economic symbol (a cheque) within the virtual, inevitably raising ever more questions.    

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The temporal progression of the concept of Withdrawal and its re-imagination since 2011 continues as an on-going living project that has the potential to be (re)conceptualised and (re)contextualised within several frames. As an on-going process, it evokes a constellation of narratives which are manifested in a series of experiments that aim to critically question working conditions in the artistic field as well as other systems such as the social, the economic, the political and the artistic.

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The artistic duo greets the viewer here at the Contemporânea website with an assembly of images and texts that function almost as film shots – each telling a story in an ambiguous and estranged visual form. We follow the artists in their theatrical and playful journey as their images pass before our eyes as characters on a film screen assuming different roles. Viewed in this light, their methodology can be said to be Brechtian or, in the artists’ own words, they move in “Buster-Keaton-like choreography":  the story oscillates between an absurdist comedy and sublime drama. For instance the viewers are invited on one of the images to trace the trajectory of a bank cheque as it hovers in the air to the sound of Rimsky-Korsakov´s Flight of the Bumble Bee or are left to reflect upon "Artists as subcontractors" in a production chain as questions of the artistic exploitation are put forward.   

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Alexandra Ferreira and Bettina Wind are two artists who speak their truth in one united, dynamic and well-formulated voice. Their work is an act of protest, full of paradoxes and subtleties. The adaptive nature of their work permits its transfer across media and concepts. But the most striking aspect of their work is the space it creates for interaction. It is in this space – where we are induced to interact while questioning certainties that we might have taken for granted –  that the production of the work reaches its summit. Much more than a framed image, it offers us a multiplicity of possible images of what reality(ies) might be.    

 Claudia da Lança, Ekaterina Smirnova, Emna Lakhoua, Tzenni Chatzipanou

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