Crítica — por Samuel Silva
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A recente exposição que Carla Filipe e Ulrich Loock organizaram no mezanino da Galeria Municipal do Porto é uma insurreição à fugacidade e dispersão da cultura nocturna nas suas manifestações sonoras e visuais. "O ontem morreu hoje, o hoje morre amanhã", título da exposição, sublinha desde logo a impermanência das palavras, imagens e sons que o entretenimento da la movida procura compensar na nossa existência extenuada. A própria palavra “entreter” parece revelar-nos essa suspensão de nos manter entre qualquer coisa (entre-ter) que na maioria das vezes resvala no esquecimento.
Crítica — por Samuel Silva
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Uma espécie de eixo cósmico entre a terra e o céu, uma escadaria mágica entre o raso húmus e o insondável além. Talvez pudéssemos caracterizar assim a enigmática estrutura que Mariana Caló e Francisco Queimadela desenharam e que evoca subtilmente os zigurates sumérios na sua forma e porventura na sua natureza mediúnica. Este templo-gruta convida o corpo-penetrante a entrar, através de uma cavidade estreita, num ambiente cavernoso e obscuro composto por um dispositivo circular de múltiplas projecções e uma massa sonora de feição arcaica — sons de cigarras e assobios parecem vir de longe também, provavelmente das origens.
Ensaio — por José Marmeleira
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Nos finais dos anos 90, na cena artística que então emergia em Lisboa, a pintura parecia empurrada para um lugar mais discreto, enquanto um conjunto heterogéneo de artistas proclamava a emergência do vídeo, da instalação, da produção de objetos. Não apenas ou sobretudo para os tornar, entre outros, meios de produção de obra, mas para lhes consagrar a sua actividade. Comentava-se a chegada de uma geração que elegia livremente outros suportes e, em surdina, lá se ia dizendo que a pintura, findado o seu regresso nos anos 80, nunca mais recuperaria a visibilidade de outrora. Género associado à tradição e aos valores da sociedade burguesa, não apenas carregava consigo o peso, desconfortável, da história, como continuava a tropeçar, mais facilmente, nas armadilhas do mercado.
Crítica — por Isabel Nogueira
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A arte portuguesa recente, nomeadamente a arte dos anos 60 a 80, tem começado — felizmente — a despertar um crescente interesse, tanto ao nível das exposições de fundo como do próprio estudo crítico e historiográfico e, inclusivamente, da investigação académica. A exposição sobre a qual nos debruçamos intitula-se Pós-Pop. Fora do Lugar Comum. Desvios da “Pop” em Portugal e Inglaterra, 1965-1975, e tem curadoria de Ana Vasconcelos e Patrícia Rosas. Vejamos, num primeiro momento, alguns aspectos conjunturais. De facto, durante largo tempo, a arte dos anos 70 era vista como “de passagem” – expressão constitutiva, por exemplo, do título de um conhecido texto de João Pinharanda, publicado em 1995 –, ou como um conjunto de obras sem especial interesse ou identidade, uma vez que a década das grandes rupturas teria alegadamente sido a de 60, seguindo-se a eclosão do movimento pós-moderno — o último movimento artístico, chamemos-lhe — nos anos 80.
Artigo — por João Seguro
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O Guarda-Livros deste mês é dedicado às publicações periódicas. João Seguro seleccionou quatro revistas para esta rubrica, a saber: Electra; OEI-The Zero Alternative; Propeller e Re.vis.ta. "Este número da Electra é um breviário dos diversos movimentos da estupidez contemporânea, dotando-a de uma genealogia diversa mas bem documentada, que recua aos tempos bíblicos, a Nietzsche, Musil ou Flaubert, e avança até ao "génio equilibrado" de Donald Trump ou da Inteligência Artificial."
Artigo — por Joana Rafael
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“Quem tem a maior probabilidade de sobreviver neste planeta: águas-vivas ou seres humanos?” pergunta uma voz na instalação da companhia de teatro alemã Rimini Protokoll. Esta e mais de 30 obras expostas na Galeria Principal do Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia (MAAT), em Lisboa, pretendem chamar a atenção do público para as causas, mas também para soluções alternativas, relacionadas com os problemas induzidos pela conduta e sistema de relações entre humanos e o resto da natureza.
Artigo — por João Seguro
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Não consigo imaginar uma melhor forma de entrar na presente exposição da Susana Mendes Silva senão através daquilo que o título da exposição aponta, e que é a principal característica da sua prática artística, — a relação profunda que existe entre o seu trabalho e a sua vida, entre o trabalho e a vida. Para que essa complexa afinidade fosse posta a descoberto, a Amiga Antonia Gaeta foi chamada a curar (e aqui o significado é mesmo o original, do latim curare ou mais precisamente cuidar, porque é convocada uma ética relacional que é da esfera privada e que aqui se vai cruzar tão eficazmente com o exercício profissional da organização dos materiais e conteúdos que compõem esta mostra) a exposição de obras e materiais documentais que estavam espalhados por vinte anos de carreira.
Crítica — por Isabella Lenzi
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“A mostra será aberta ao público cinco dias antes do seu término”, escreve Artur Barrio na entrada de uma das salas de sua mostra individual, "Experiencias y situaciones", patente até o final de agosto no Museu Reina Sofia, em Madrid. À maneira de um operário, que registra a sua entrada e saída da fábrica numa folha de ponto, o artista também anota na parede do museu as datas e horários em que lá esteve. Assim, com uma mescla de agressividade e ironia, Barrio indica um dos aspectos centrais de sua produção, o confronto com as instituições e o sistema da arte.
Crítica — por Maria Beatriz Marquilhas
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Três anos depois da exposição "Observações de uma realidade sincopada" ter tomado conta das salas do Pavilhão Branco, Nicolás Robbio regressa a Portugal com a sua primeira exposição individual na galeria Bruno Múrias. Em "Histórias de um Criado-Mudo", o artista argentino a viver em São Paulo reflecte sobre narrativas que foram silenciadas, omitidas na construção de uma memória partilhada. O protagonista da exposição — o criado-mudo — dá nome, no Brasil, a uma peça de mobiliário que, em Portugal, corresponde às mesas-de-cabeceira, criando um jogo de palavras que aponta para um servilismo sem voz, historicamente reprimido, mas omnipresente na intimidade do quotidiano e cujo sentido vai sendo actualizado pela linguagem.
Crítica — por Isabel Nogueira
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"Quando se apear, deixe seguir o carro antes de atravessar a rua", podemos ler numa das duas tapeçarias apresentadas nesta exposição de Julião Sarmento (n. 1948), que reproduzem – frente e verso – um bilhete de eléctrico, que possivelmente ficara num bolso e só agora conheceu concretização enquanto objecto artístico, no Centro Internacional das Artes José de Guimarães. O título da mostra: "Leopard in a Cage. Projectos Inéditos (1969-2018)", com curadoria de Filipa Oliveira e Nuno Faria, chama claramente a atenção para o principal propósito da exposição: dar a ver trabalhos que, por variados motivos, não chegaram efectivamente a tomar corpo até ao presente e, por outro lado, apresentar alguns trabalhos recentes, também trazidos a público pela primeira vez.
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