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Contradições na Política Cultural da Rússia: O Conservadorismo enquanto Instrumento do Neoliberalismo

Ilya Budraitskis

Hoje em dia é comum estabelecer-se um contraste entre o estadismo da Rússia contemporânea e a ordem neo-liberal Ocidental, que se fundamenta na primazia da liberdade política e económica. Os jornalistas e peritos europeus discutem a Rússia de Putin como se esta fosse um estado revisionista não só pronto para a agressão militar como também movido por forças internas destrutivas: uma “internacional populista” de partidos de direita e de esquerda, a atacar um establishment imaginário. [1]

De facto, a ideia de que a Rússia tem um estatuto especial, que a distingue da Europa Ocidental, tem sido ao longo de anos recentes um dos principais elementos utilizados pela propaganda do Kremlin dentro do país. Em inúmeras aparições públicas e inúmeros documentos oficiais, os representantes da autoridade (incluindo o Presidente Putin) reafirmaram esta diferença entre “individualismo” Ocidental e “colectivismo” russo. Este último é amplamente apresentado como dando prioridade a interesses comuns ao invés de a interesses pessoais, um tema que continua a ser um dos principais componentes do “código cultural” russo. Contudo, este “colectivismo”, por contraste a um egoísmo materialista, surge não apenas como especificamente russo, mas também enquanto parte universal do corpo de “valores tradicionais”. Ao defender estes valores, a Rússia não só luta pela sua própria soberania como lembra também o Ocidente da sua própria herança Cristã.

Contudo, a retórica conservadora que está a ganhar balanço na Rússia dos dias de hoje, incluindo os ataques ao “individualismo” de mercado, vê-se combinada de forma orgânica com práticas neo-liberais das políticas soció-económicas do Kremlin. O isolacionismo, o clericalismo e os métodos políticos autoritários não contradizem de forma significativa os princípios neoliberais de subordinar todas as esferas da vida social à lógica da concorrência e da eficiência de mercado, mas criam sim uma matriz geral ideológica híbrida. Na Rússia em anos recentes, o campo cultural tem sido quer o âmbito em que esta ideologia híbrida é produzida, quer o âmbito da sua aplicação. O crescimento de uma pressão ideológica nas instituições culturais do estado tem vindo a ser combinado com a introdução activa de princípios de “austeridade económica” e do modelo de “parceria público-privada”. Esta situação gera um novo desafio para aqueles que trabalham na esfera cultural, que devem defender a sua independência contra as ofensivas ideológicas conservadoras e a lógica de mercado, conduzidas em medidas iguais por um estado autoritário.

O apoio a Putin nas mais recentes eleições foi moldado não só por argumentos políticos (sendo o principal o medo da destabilização), mas também pela ideia da fidelidade da nação a ela mesma, a valores fundamentais (de ortodoxia e de autoridade estatal), sem os quais se tornaria impossível proteger a Rússia no futuro. Assim, logo desde o início do terceiro mandato de Putin, as questões de cultura, história e moral foram identificadas enquanto a essência da política - a sua substância mais autêntica e profunda. Numa interpretação tão conservadora, a cultura torna-se uma nova ideia nacional em que o passado é experienciado enquanto presente. Em Maio de 2012, o posto de Ministro da Cultura (previamente não-político) foi atribuído a Vladimir Medinsky - político da esfera pública, autor de panfletos patrióticos populares, homem de negócios e publicitário.

Nas suas muitas aparições e artigos, Medinsky passa a imagem de ser um historiador engagé [2], que visa atacar “mitos sobre a Rússia”. Do ponto de vista de Medinsky, ao longo da sua história a Rússia tem sido continuamente sujeita não só a tentativas abertas de subordinação por parte de países Ocidentais que tentam privá-la da sua independência, mas também a uma “guerra de informação” oculta.

A História e a cultura, de acordo com o Ministro, representam um lugar de conflito da tecnologia de criação de “mitos”, com alguns mitos a trabalhar para a destruição do estado e outros, por oposição, a fortalecê-lo. Estas tecnologias de “mitos úteis”, assim como várias outras ferramentas úteis, devem ser continuamente aperfeiçoadas. Ou, como Medinsky gosta de repetir, “se não alimentarmos a nossa própria cultura, estaremos a alimentar o exército de alguma outra” [3].

Esta noção da interdependência da cultura, conhecimento histórico e temáticas actuais de segurança nacional constituem a estratégica política base do Ministério da Cultura sob a liderança de Medinsky. Numa situação de rápido crescimento dos gastos militares na Rússia, a persistente apresentação da cultura como uma arma de grande importância nas guerras abertas ou ocultas contemporâneas reforçou a posição de influência do Ministério da Cultura na luta pela distribuição dos recursos orçamentais. Por seu lado, os funcionários militares russos, até ao início do conflito Ucraniano, desenvolveram activamente a noção de “guerra híbrida”, que incluía métodos “não-militares” no seu arsenal, juntamente com “medidas humanitárias” de “carácter oculto”, que o estado deveria estar pronto a deflectir [4].

A RVIO, cujo presidente acaba por ser o mesmíssimo Medinsky, encarna tanto a continuidade de formas históricas de propaganda como um modelo de “parceria público-privada”, em que as políticas culturais patrioticamente orientadas se demonstram capazes de atrair patrocínio privado. Assim, a par de funcionários de alto-nível, a “Sociedade” inclui nos seus administradores um grupo de homens de negócios poderosos. As contribuições privadas para as políticas culturais patrióticas aparecem aqui tanto na categoria da virtude da participação cívica como na do investimento a longo prazo.

Em 2014, depois da anexação da Crimeia e do início do confronto político com o Ocidente, emergiu um novo estádio do oscilar russo para o conservadorismo. Desde o início, os acontecimentos na Ucrânia configuraram-se não só enquanto desafio político internacional, mas também enquanto ameaça directa à estabilidade doméstica russa. Em linha com o discurso de conspiração anti-revolucionária oficialmente adoptado, o perigo de uma “mudança de regime” foi associado à importação de “valores falseados”, que destruíam a unidade do estado e da sociedade. Esta agressão interna oculta só pode ser contrariada por uma nação moralmente saudável em que a arbitrariedade dos interesses individuais ou de grupo é ultrapassada através de uma convergência de princípios unificantes. A unidade frente à ameaça, afirmada através da ética e da cultura, constituiu a justificação quer para limitar os gastos sociais quer para a implementação de uma política geral de “austeridade económica”, imposta pelo governo russo em condições de sanções internacionais e crise económica cada vez mais profunda.A demonização de uma “exportação de tecnologias revolucionárias” destrutiva fornece argumentos universais contra quaisquer protestos sociais locais, com as intrigas de inimigos internos a serem apresentadas como justificação legítima. Em linha com o decreto sobre os “Fundamentos de política cultural estatal” adoptado no final de 2014, a vulnerabilidade do país face a conflitos internos está associada à possibilidade de uma “crise humanitária”, que é caracterizada por uma “desvalorização de valores geralmente aceites”, por uma “deformação da memória histórica” e pela “desintegração da sociedade” [7]. A ameaça de uma tal crise pode tornar-se real se uma cultura é ainda entendida não enquanto “parte integrante da estratégia de segurança nacional”, mas como uma esfera em que as ambições artísticas individuais são realizadas. Contudo, em princípio, na esfera da cultura o estado age não enquanto força disciplinante e punitiva, mas enquanto cliente racional, cujas decisões são determinadas exclusivamente de acordo com interesses pessoais. Patriotismo, valores morais e unidade contra os inimigos são as únicas qualidades que o estado exige dos produtores de cultura. A lógica é simples: se os trabalhos não vão ao encontro das necessidades do estado, então este irá recusar-se a pagar por eles.

O interesse estatal na cultura enquanto um dos instrumentos chave para garantir a segurança não só não contradiz o sistema ético neo-liberal de “eficiência” como, pelo contrário, encontra aqui uma sua realização interna natural. Um elemento que confirma esta matriz é a ideia de concorrência, que determina as atitudes do estado bem como as dos indivíduos. Caracteristicamente, a cultura nos “Fundamentos” é percebida enquanto recurso que, tal como a riqueza natural, é vantajoso para a Rússia no estado natural de luta das potências mundiais por influência.

A qualidade consagrada da alta cultura russa educará a nação, que por sua vez afirma a sua concordância com “valores espirituais” nacionais ao comprar um número imenso de bilhetes para exposições e performances. Um exemplo da combinação de “alta cultura” e sucesso comercial nestes termos pode ser encontrado em exposições dos clássicos da arte russa (como Valentin Serov e Ivan Aivazovsky) na Galeria Estatal Tretyakov. A exposição de Serov, em exibição de Outubro de 2015 a Fevereiro de 2016, teve quase meio milhão de visitantes. Parte da campanha publicitária da exposição centrou-se numa visita especial pelo Presidente Putin. Nas palavras de Medinsky, a exposição de Serov testemunhou o “fenómeno psicológico” da “atracção sem limites de um/a russo/a pela arte”, independentemente de “crises ou sanções” [8]. A arte clássica russa sobressai pelo seu poder de consolidação nacional, unindo nação e governo, classes altas e baixas, dadas as suas convicções estéticas e morais comuns. Isto é um investimento historicamente assegurado e garantido na “cultura de massas de altos modelos”, no triunfo da vontade da maioria, empiricamente expresso pelas massas de visitantes que compram bilhetes.

Aqui, a democracia genuína resiste ao pluralismo inautêntico, significado por um direito à representação igual de valores culturais absolutos e das experiências distorcidas de estetas que estão distantes do povo. As experiências questionáveis na esfera da arte contemporânea não só ameaçam a “soberania cultural” como também danificam directamente o Estado.

Neste contexto, os argumentos morais constituem uma arma de grande importância na luta pela redistribuição dos recursos do estado. Foi significativa neste aspecto a exposição Na Dne [As Profundidades Mais Fundas], organizada pela Fundação “Art Without Borders”, que é próxima do partido no poder, “Yedinaya Rossiya” [Rússia Unida]. Esta exposição consistia numa série de fotografias tiradas em performances num sem-número de teatros estatais que questionavam “valores tradicionais” numa variedade de formas (nudez, actos de violência ou profanação de símbolos cristãos). Cada fotografia fez-se acompanhar por números exactos que davam conta da quantidade de apoio estatal recebido pelo espectáculo em causa. O efeito de choque sobre o visitante que foi pretendido com esta exposição encontrava-se contido no contraste entre a escala de recursos perdidos e o falhar em ir ao encontro das necessidades da maioria numa forma de arte deste género [9].

Acções públicas ou acções legais contra várias exposições ou espectáculos, iniciadas por grupos que alegavam agir em nome de uma “maioria moral” ofendida, são cada vez mais acompanhadas por propostas de uma distribuição alternativa dos recursos orçamentais. De facto, os protestos em nome da “maioria moral” fazem parte da “concorrência de projectos artísticos”, à qual os funcionários do Ministério da Cultura constantemente apelam. Pode depreender-se que desde o início da “oscilação para o conservadorismo” em 2012, o discurso dos “valores tradicionais” foi completamente absorvido pela lógica de “projectos criativos” a tomar parte na luta competitiva por fundos públicos. Os objectos dos ataques são precisamente aqueles que também tomam parte nos mecanismos de distribuição de fundos. Simultaneamente, contra esta espécie de pano de fundo, as instituições privadas - museus ou teatros - parecem oásis de liberdade e experimentação, restringidas apenas por problemas de auto-suficiência ou pelas preferências dos seus donos. Assim, o centro de arte contemporânea “Garage” ou a fundação “Victoria” (que abriu recentemente a sua própria galeria no centro de Moscovo) não têm sofrido as óbvias pressões de censura ou ataques públicos por parte de lobbyists patrióticos ao longo de anos recentes. Contudo, nesta capacidade, elas apresentam não uma alternativa ao estado, mas um modelo neo-liberal organicamente composto de “economia cultural ou cultura organizada nos mesmos trâmites que a economia” [10]. Na hegemonia existente, o lugar da arte contemporânea é determinado por uma desigualdade social em constante crescimento, um abismo actual entre a maioria da população e uma classe média metropolitana em decréscimo: se as preferências culturais da primeira são expressas por um estado conservador, então a posição crítica da última parece legítima graças apenas ao seu poder de compra. A oposição entre esferas estatais e privadas torna-se factualmente uma perda ao longo de todo o espectro da cultura, que difere da lógica de mercado.

Actualmente, a Rússia está a entrar gradualmente num período de turbulência política, que faz com que a perspectiva do aumento de movimentos civis de massas seja muito real. Inevitavelmente, os temas no centro de um tal movimento irão tratar não só a luta contra a corrupção ou a defesa dos direitos dos cidadãos, mas também o importantíssimo problema de uma desigualdade social colossal. Isto significa que em condições de retoma social irá inevitavelmente existir um interesse crescente numa variedade de alternativas ao próprio modelo de capitalismo russo pós-soviético, com a sua combinação específica de práticas políticas autoritárias, hegemonia ideológica conservadora e princípios neo-liberais estatais e empresariais. Numa situação assim, a esfera cultural, que é capaz de avaliar criticamente o seu próprio lugar na sociedade, pode tornar-se um espaço importante para a discussão de alternativas sociais.

Tradução do inglês por Henrique Frederico Rocha.

Esta intervenção de Ilya Budraitskis foi realizada no âmbito do projecto 4Cs.

4Cs: do Conflito à Convivialidade através da Criatividade e da Cultura é um projeto de cooperação apoiado pela Comissão Europeia no quadro da Europa Criativa, subprograma Cultura. Coordenado pela Universidade Católica Portuguesa, o 4Cs tem o objetivo de explorar a forma como a arte e a cultura podem ser grandes recursos para a abordagem à temática do conflito. Um dos principais objetivos do projeto é contribuir para a formação e educação. O programa incluirá exposições, residências artísticas e de investigação, ciclos de cinema, laboratórios de mediação, workshops, conferências, publicações, uma plataforma online e uma Summer School.

Oito parceiros de oito países diferentes (Portugal, Suécia, Alemanha, Reino Unido, Espanha, Lituânia, Dinamarca e França) trabalham juntos neste projeto, que teve início em julho de 2017 e irá durar até junho de 2021. As instituições parceiras são: a Faculdade de Ciências Humanas e o The Lisbon Consortium da Universidade Católica Portuguesa, Tensta Konsthall, SAVVY Contemporary - Laboratory of Form-Ideas, Royal College of Art, Fundació Antoni Tápies, Vilnius Academy of Fine Arts, Museet for Samtidskunst e ENSAD, e ainda uma série de parceiros associados que incluem o Culture+Conflict, o Instituto de Arte Moderna de Middlesbrough, a Universidade Klaipėda, a Fundação Gulbenkian, a Rua das Gaivotas 6, a Plataforma de Apoio aos Refugiados, entre outros. + info

 

1. Esta ideia é, por exemplo, uma das principais teses da comunicação especializada ‘Post-Truth, Post-West, Post-Order?’, apresentada na conferência de segurança de Munique no início de 2017.

https://www.securityconference.de/en/discussion/munich-security-report/

 

2. Em 2016, um grupo de proeminentes historiadores russos, membros da Academia de Ciências, fez um apelo para que o grau de Doutor em Ciências Históricas de Vladimir Medinsky lhe fosse retirado. A base desta exigência foi a existência de plágio, de métodos de pesquisa incorrectos, assim como a aderência de Medinsky à visão “pseudo-científica do precedente do mito histórico sobre o facto”. Acesso aberto: «О методах научного исследования и диссертации В.Мединского» [Sobre os métodos de pesquisa académica na dissertação de V. Medinsky]

http://www.1julyclub.org/node/122

 

3. Entrevista com Vladimir Medinsky. Izvestia, 17.06.2015.

http://izvestia.ru/news/587771

 

5. Valerii Gerasimov. Ценность науки в предвидении [The value of scholarship with foresight]. http://www.vpk-news.ru/articles/14632

 

6. Pode ser encontrada mais informação sobre o programa de propaganda monumental aqui: http://rvio.histrf.ru/activities/monumentalnaya-propaganda

 

7. Основы государственной культурной политики РФ [Fundamentos da política cultural estatal da Federação Russa]. http://mkrf.ru/info/foundations-state-cultural-policy/

 

8. «Мединский назвал успех выставки Серова политическим феноменом» [Medinsky declara a exposição de Serov um fenómeno político]

http://tass.ru/kultura/2616910

 

9. «Москвичам показали дно современного российского театра» [Apresentada aos Moscovitas a escória do teatro russo contemporâneo]

https://www.ridus.ru/news/185588 http://www.rbc.ru/politics/26/05/2017/5927fa429a7947d007c42818?from=main

 

10. Aleksandr Bikbov, Культурная политика неолиберализма [As políticas culturais do neo-liberalismo]. «Художественный журнал» [Revista de Arte], №83 (2011). http://moscowartmagazine.com/issue/14/article/187

 

Contradictions in Russian Cultural Politics: Conservatism as an Instrument of Neoliberalism

Today, it is common to contrast the statism of contemporary Russia with the Western neoliberal order, which is based on the primacy of political and economic freedom. European journalists and experts discuss Putin’s Russia as though it were a revisionist state that is not only ready for military aggression but is also driven by internal destructive forces: a ‘populist international’ of right and left parties, attacking an imaginary ‘establishment’.[1]

Indeed, the idea of Russia’s ‘special path’, one that distinguishes it from Western Europe, has throughout recent years been one of the main elements of Kremlin propaganda within Russia. In countless public appearances and official documents, the authority’s representatives (including President Putin) have reaffirmed this difference between Western ‘individualism’ and Russian ‘collectivism’. The latter is widely presented as prioritizing common interests over personal ones, a theme that continues to be one of the principal components of the Russian ‘cultural code’. However, this ‘collectivism’, contrasted with materialistic egoism, appears not only as specifically Russian, but also as a universal part of the corpus of ‘traditional values’. In defending these values Russia not only struggles for its own sovereignty but also reminds the West of its own Christian heritage.

Now, the support for Putin in the elections was shaped not only by political arguments (the main one being fear of destabilization), but also by the idea of the fidelity of the nation to itself, to fundamental values (of orthodoxy and state authority), without which it would be impossible to protect Russia in the future. Thus, right from the beginning of Putin’s third term, questions of culture, history and morals were identified as the essence of politics - its authentic, deeper substance. In such a conservative interpretation, culture becomes a new national idea in which the past is experienced as the present. In May 2012, the post of Minister of Culture (previously non-political) was assigned to Vladimir Medinsky – a public politician, the author of popular patriotic brochures, a businessman and publicist.In his many appearances and articles Medinsky comes across as an engaged historian,[2] attacking ‘myths about Russia’. From Medinsky’s point of view, throughout its history, Russia has been continually subjected not only to open attempts by Western countries to subordinate and deprive it of its independence but also to a hidden ‘information war’. History and culture, according to the Minister, represent a place of conflict between the technology of ‘myth’ creation, with some myths working for the destruction of the state, and others, by contrast, strengthening it. These technologies of ‘useful myths’, like various other useful tools, must be continually perfected. Or, as Medinsky likes to repeat, ‘if you don’t feed your own culture, you’ll be feeding someone else’s army’.[3]

This notion of the interdependence of culture, historical knowledge and current issues of national security constitute the basic political strategy of the Ministry of Culture under Medinsky’s leadership. In a situation of rapid growth of military expenditure in Russia, the persistent presentation of culture as an important weapon in contemporary open or hidden wars has strengthened the lobbying position of the Ministry of Culture in the fight for distribution of budgetary resources. On their part, Russian military functionaries, right until the beginning of the Ukrainian conflict, actively developed the notion of a ‘hybrid war’, which included ‘non-military’ methods in its arsenal along with ‘humanitarian measures’ ‘of a hidden character’ which the state should be ready to deflect.[4]

The first practical instrument of such a militarization of culture was the establishment, by presidential edict in December 2012, of the ‘Russian Historico-military Society’ (RVIO), whose official co-founders were the Ministries of Defence and of Culture. In addition to its commitment to traditional forms of ‘military-patriotic education’ (youth training camps; costume reconstructions of historic battles), the ‘Society’ in fact initiated a new stage of ‘monumental propaganda’.[5] In recent years, dozens of monuments have been erected all over the country, primarily commemorating military glory. The culmination of this campaign was the unveiling in Autumn 2016 in the centre of Moscow of a large-scale monument to Prince Vladimir, who converted to Christianity in the 10th century.[6]

RVIO, whose chairman turns out to be the very same Medinsky, embodies both the continuity of historical propaganda forms and a model of ‘public-private partnership’, in which patriotically oriented cultural policies show themselves able to attract private sponsorship. So, alongside high-level officials, the ‘Society’ includes among its trustees a group of powerful businessmen. Private contributions to patriotic cultural policies appear here in both the category of the virtue of civic participation and long-term investment.

In 2014, after the annexation of Crimea and the beginning of political confrontation with the West, a new stage of the Russian swing to conservatism emerged. From the very beginning events in Ukraine appeared not only as an international political challenge, but a direct threat to Russia’s domestic stability. In accordance with officially adopted anti-revolutionary conspiracy discourse, the danger of a ‘regime change’ was linked with the importing of ‘mendacious values,’ which destroyed the unity of state and society. This hidden internal aggression can be opposed only by a morally healthy nation in which the arbitrariness of individual or group interests is overcome through a commonality of unifying principles. Unity in the face of threat, affirmed through ethics and culture, constituted both the justification for curtailing social expenditure and a general policy of ‘economic austerity’, imposed by the Russian government in conditions of international sanctions and deepening economic crisis.

The demonization of a destructive ‘export of revolutionary technologies’ provides universal arguments against any local social protests, with the intrigues of internal enemies being given as authentic justification. In accordance with the decree on the ‘foundations of state cultural policy’ adopted at the end of 2014, the vulnerability of the country in the face of internal conflicts is linked with the possibility of a ‘humanitarian crisis’, which is characterized by a ‘devaluation of generally accepted values’, the ‘deformation of historical memory’, and the ‘atomization of society’.[7] The threat of such a crisis can become real if a culture is still understood not as an ‘integral part of the strategy of national security’, but as a sphere in which individual artistic ambitions are realized. However, in principle, in the sphere of culture the state acts not as a disciplinary and punitive force, but as a rational client, whose decisions are determined exclusively according to personal interests. Patriotism, moral values and unity in the face of enemies – these are the sole qualities which the state demands of producers of culture. The logic is simple: if the works do not meet the needs of the state, then it will decline to pay for them.

State interest in culture as one of the key instruments of ensuring security not only does not contradict the neoliberal ethos of ‘effectiveness’ but, on the contrary, it finds here a natural internal fulfilment. One element affirming this construct is the idea of competition, which determines the attitudes of the state as well as of individuals. Characteristically, culture in the ‘Foundations’ is perceived as a resource, which, like natural wealth, is advantageous for Russia in the natural state of struggle of world powers for influence.

The time-proven quality of high Russian culture is bound to educate the nation which in turn affirms its accordance with national ‘spiritual values’ by buying massive numbers of tickets for exhibitions and performances. An example of combining ‘high culture’ and commercial success in this way can be seen in exhibitions of the classics of Russian art (such as Valentin Serov and Ivan Aivazovsky) at the State Tretyakov Gallery. Serov’s exhibition, on from October 2015 to February 2016, had almost half a million visitors. Part of the publicity campaign for the exhibition was a special visit by President Putin. In Medinsky’s words, Serov’s exhibition bore witness to the ‘psychological phenomenon’ of the ‘limitless attraction of art for a Russian’, regardless of ‘crises or sanctions’.[8] Classical Russian art stands out for its power of national consolidation, uniting nation and government, higher and lower classes, owing to their common aesthetic and moral convictions. This is an historically proven guaranteed investment in ‘the mass culture of high models’ and the triumph of the will of the majority, empirically expressed by the masses of ticket-buying visitors.

Here, genuine democracy resists inauthentic pluralism, signified by a right to the equal representation of absolute cultural values and the warped experiments of aesthetes who are distant from the people. Questionable experiments in the sphere of contemporary art not only threaten ‘cultural sovereignty’ but also directly damage the state.

   In this context, moral arguments constitute an important weapon in the struggle for the redistribution of state resources. Significant in this regard was the exhibition ‘Na Dne [The Lower Depths]’, organized by the ‘Art without Borders’ Foundation, which is close to the ruling ‘Yedinaya Rossiya’ [United Russia] party. This exhibition consisted of a series of photographs taken from performances at a number of state theatres that challenged ‘traditional values’ in a variety of ways (nudity, acts of violence, or profanation of Christian symbols). Each photograph was accompanied by precise figures giving the amount of state support received by the show in question. The shocking effect that this exhibition was supposed to have on the viewer was contained to the contrast between the scale of lost resources and the lack in meeting the needs of the majority in a similar art form.[9]

Public actions or legal suits against various exhibitions or shows, initiated by groups claiming to act in the name of an offended ‘moral majority’, are more and more often accompanied by proposals for an alternative distribution of budgetary resources. In fact, protests in the name of the ‘moral majority’ constitute part of the ‘competition of artistic projects’, to which functionaries of the Ministry of Culture constantly appeal.

 It could be ascertained that from the beginning of the ‘swing to conservatism’ in 2012, the discourse of ‘traditional values’ was completely absorbed into the logic of ‘creative projects’ taking part in the competitive struggle for public funding. The objects of attacks are precisely those who also take part in the mechanisms of funding distribution. At the same time, against this kind of background, private institutions–museums or theatres–look like oases of freedom and experimentation, restricted only by problems of self-sufficiency or the preferences of their owners. Thus, the centre for contemporary art ‘Garage’ or the ‘Victoria’ foundation (recently opening its own gallery in the centre of Moscow) had not experienced the obvious pressures of censorship or public attacks from patriotic lobbyists over the last few years.

However, in this capacity they present not an alternative to the state, but an organically composed neoliberal model of ‘cultural economics, or culture organized like economics’.[10] In the existing hegemony, the place of contemporary art is determined by a constantly growing social inequality: a current abyss between the majority of the population and a decreasing metropolitan middle class. If the cultural preferences of the former are voiced by a conservative state, then the critical stance of the latter looks legitimate only thanks to their buying power. The opposition between state and private cultural spheres in actual fact becomes a loss across the whole expanse of culture, which differs from the logic of the market.

  Today, Russia is gradually entering a period of political turbulence which makes the prospect of the rise of a mass civil movement very real. Inevitably, the issues at the centre of such a movement will concern not only fighting corruption or defending citizens’ rights, but also the all-important problem of colossal social inequality. This means that in conditions of social upswing there will inevitably be a growing interest in a variety of alternatives to the very model of Russian post-Soviet capitalism, with its specific combination of authoritarian political practices, conservative ideological hegemony and neoliberal principles of state and business. In such a situation, the cultural sphere, able to critically evaluate its own place in society, can become an important space for discussion of social alternatives.

Text by Ilya Budraitskis

Proofread by Leonie Rose Davidson

 

 

4Cs | From Conflict to Conviviality through Creativity and Culture is a cooperation project supported by the European Commission in the frame of Creative Europe - Culture Sub-programme. Coordinated by the Universidade Católica Portuguesa, 4Cs aims to explore how art and culture can constitute powerful resources to address the subject of conflict. A major focus will be on training and education. The programme will include exhibitions, artistic and research residencies, film screenings, mediation labs, workshops, conferences, publications, an online platform and a Summer School.

Eight partners from eight different countries (Portugal, Sweden, Germany, the United Kingdom, Spain, Lithuania, Denmark, and France) are working together in this project, which started in July 2017 and will last until June 2021. The institutional partners are: the Faculty of Human Sciences and The Lisbon Consortium at the Universidade Católica Portuguesa, Tensta Konsthall, SAVVY Contemporary – Laboratory of Form-Ideas, Royal College of Art, Fundació Antoni Tápies, Vilnius Academy of Fine Arts, Museet for Samtidskunst, and ENSAD, along with a series of associate partners including Culture+Conflict, the Middlesbrough Institute of Modern Art, Klaipėda University, Gulbenkian Foundation, Rua das Gaivotas 6, Plataforma de Apoio aos Refugiados, and others. + info

 

1. This idea is, for example, one of the main theses of the expert paper: ‘Post-Truth, Post-West, Post-Order?’, presented at the Munich security conference at the beginning of 2017. https://www.securityconference.de/en/discussion/munich-security-report/

2. In 2016, a group of eminent Russian historians, members of the Academy of Sciences, made an appeal for Vladimir Medinsky to be stripped of his doctorate of historical sciences. The basis for this demand was the presence of plagiarism, incorrect research methods, and also Medinsky’s adherence to the ‘pseudoscientific’ view of the precedence of historical myth over fact. Open address: «О методах научного исследования и диссертации В.Мединского» [On the scholarly research methods in the dissertation by V. Medinsky] http://www.1julyclub.org/node/122

3. Interview with Vladimir Medinsky. Izvestia, 17.06.2015. http://izvestia.ru/news/587771

5. Valerii Gerasimov. Ценность науки в предвидении [The value of scholarship with foresight]. http://www.vpk-news.ru/articles/14632

6. More information on the programme of monumental propaganda Military-historical Society can be found here: http://rvio.histrf.ru/activities/monumentalnaya-propaganda

7. Основы государственной культурной политики РФ [Foundations of state cultural policy of the Russian Federation]. http://mkrf.ru/info/foundations-state-cultural-policy/

8. «Мединский назвал успех выставки Серова политическим феноменом» [Medinsky declares Serov’s show a political phenomenon] http://tass.ru/kultura/2616910

9 «Москвичам показали дно современного российского театра» [Muscovites shown the dregs of contemporary Russian theatre] https://www.ridus.ru/news/185588

http://www.rbc.ru/politics/26/05/2017/5927fa429a7947d007c42818?from=main

10. Aleksandr Bikbov, Культурная политика неолиберализма[The cultural policies of neoliberalism]. «Художественный журнал» [Art journal], №83 (2011). http://moscowartmagazine.com/issue/14/article/187

 

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